A Operação Lava Jato investiga a captação de recursos para o financiamento do longa Lula, o Filho do Brasil. O empreiteiro Marcelo Odebrecht e o ex-ministro Antonio Palocci já prestaram depoimento. Em e-mails capturados pela Polícia Federal, executivos relatam a demanda de R$ 1 milhão para apoiar o filme de interesse do nosso cliente, que seria o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O filme que narra a história do petista estreou em 1º de janeiro de 2010 e custou cerca de R$ 12 milhões. A Odebrecht destinou R$ 750 mil para o longa. A defesa de Lula não comentou a investigação da força-tarefa em Curitiba. O produtor do longa, Luiz Carlos Barreto, negou que tenha ocorrido tráfico de influência. A Odebrecht informou que está colaborando com a Justiça.
Em depoimento no dia 11 de dezembro, Palocci foi questionado pelo delegado Filipe Hille Pace sobre sua suposta relação com a produção do filme. O ex-ministro afirmou que deseja colaborar na elucidação de tais fatos, mas que naquele momento ficaria em silêncio.
No mesmo dia, Marcelo delator da Lava Jato, já condenado e em prisão domiciliar em São Paulo também falou ao delegado. Durante o depoimento, a PF apresentou ao empreiteiro e-mails extraídos de seu computador e ligados ao financiamento do filme. As mensagens recentemente resgatadas foram trocadas entre 7 de julho e 12 de novembro de 2008.
Em um dos e-mails, Marcelo enviou cinco tópicos a funcionários do grupo. Na lista estavam os executivos Alexandrino Alencar e Pedro Novis, que também se tornaram delatores.
O Italiano (Palocci) me perguntou sobre como anda nosso apoio ao filme de Lula, escreveu Marcelo. AA (Alexandrino Alencar) tinha acertado com o seminarista, mas adiantei que, se tivermos nos comprometido com algo, seria sem aparecer nosso nome, relatou o empreiteiro. Seminarista, segundo os investigadores, é Gilberto Carvalho, ex-assessor de Lula e ex-ministro de Dilma Rousseff.
A força-tarefa apura se o financiamento do filme tem relação com o esquema de desvios e corrupção na Petrobrás. À PF, Marcelo disse acreditar que a doação para o filme fazia parte da agenda mais geral da Odebrecht com PT e Lula, ou, por exemplo, de uma conta-corrente geral de relacionamento que Emílio (Odebrecht, seu pai), poderia manter com Lula.
Apoio. O primeiro e-mail identificado pelos investigadores indica que Marcelo havia sugerido a criação de um fundo. Na mensagem, o responsável pela comunicação do grupo, Marcos Wilson, informa ao empreiteiro que os realizadores não aceitaram.
O amigo de seu pai (Lula), por sua vez, não admite usar qualquer lei de incentivo fiscal. Se houver interesse estratégico, encontraremos uma forma de atender à demanda, escreveu Wilson a Marcelo. Na época, a empresa era presidida por Novis, que, nas mensagens, afirma que Alexandrino falaria com o seminarista.
Wilson, em um dos e-mails, fala sobre a inviabilidade do fundo e emite opinião sobre o longa: Minha posição: embora seja um desejo do cliente e que já anda bem adiantado (o filme tem as características de Dois Filhos de Francisco), acho que este tipo de louvação maléfica poderá vir a ser um tiro no próprio pé do cliente. Ele informa, então, o valor final do apoio.
Barreto disse também que negou o pedido de omissão feito pela Odebrecht. Houve uma solicitação para que não incluíssemos o nome da empresa nos créditos do filme e dos materiais publicitários, condição essa que não foi, por nós, aceita, afirmou Barreto. A empreiteira foi citada no filme. Procurado, Carvalho não foi localizado.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta