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Ex-presidente da Jurong é denunciado por corrupção em estaleiro do ES

Ex-presidente da Jurong é denunciado por corrupção em estaleiro do ES

Segundo o MPF, Martin Cheah Kok Choon, presidente da Jurong no Brasil em 2012, pagou R$ 43 milhões para Renato Duque, diretor da Petrobras, para facilitar a contratação do estaleiro de Aracruz para a construção de seis sondas para a estatal

Publicado em 31 de janeiro de 2020 às 21:20

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Estaleiro Jurong Aracruz: ex-presidente da empresa teria pago propina para que estaleiro fosse escolhido para construir seis sondas da Petrobras. (Divulgação/Jurong)

O ex-presidente da Jurong no Brasil Martin Cheah Kok Choon foi acusado de corrupção e lavagem de dinheiro pela força-tarefa da Operação Lava Jato. A denúncia oferecida na última quinta-feira (30) à Justiça pelo Ministério Público Federal (MPF) diz que Choon pagou, por meio de um intermediário, R$ 43 milhões para o então diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, a fim de firmar contratos para a construção de seis unidades flutuantes de perfuração (sondas) no estaleiro de Aracruz, no Espírito Santo.

Os contratos foram assinados em agosto de 2012. A força-tarefa acusa Duque de ter interferido para que a Sete Brasil, empresa criada pela Jurong e outros estaleiros para concorrer a contratos da Petrobras, fosse a escolhida pela estatal. Segundo o MPF, o grupo de empresas recebia informações privilegiadas desde o início do processo de contratação de sondas.

As unidades que seriam construídas em Aracruz — NS Guarapari, NS Camburi, NS Itaoca, NS Itaúnas, NS Siri e NS Sahy — tiveram um valor total estimado em R$ 30,2 bilhões, preço considerado acima do mercado. Uma sétima sonda, a NS Arpoador, que seria contratada pelo estaleiro Atlântico Sul, também foi direcionada para a Jurong a um valor de R$ 4,5 bilhões. Dessas sete, conforme A Gazeta já mostrou, só duas sondas vão sair do papel.

A propina teria sido paga por um operador financeiro, Guilherme Esteves de Jesus. Os pagamentos foram concretizados mediante transferências a partir de contas secretas mantidas por Guilherme em Liechtenstein para contas também secretas que Duque e outros beneficiários mantinham na Suíça.

Navio sonda Arpuador está sendo construído no Estaleiro Jurong em Aracruz. (Estaleiro Jurong)

Em aprofundamento das investigações, por meio de e-mails trocados entre o operador e o então presidente da Jurong, o MPF constatou que os pagamentos ilícitos realizados por Guilherme contaram com o conhecimento e autorização de Choon.

Verificou-se ainda que parte do lucro ilícito obtido com os atos de corrupção foi repassado pelo operador financeiro ao executivo, também mediante transferências bancárias no exterior por intermédio de contas não declaradas, mantidas por ambos em nome de offshores. Dados bancários mostram que Guilherme transferiu mais de US$ 9 milhões para as contas de Martin.

Aspas de citação

Em busca do repatriamento e recuperação dos valores desviados, a força-tarefa Lava Jato já formulou pedidos de cooperação para Suíça e Liechtenstein que permitiram o bloqueio do montante equivalente a R$ 47 milhões. Os valores estavam depositados em contas mantidas pelos denunciados nos dois países, em nome de empresas offshore

Laura Tessler
Procuradora da República
Aspas de citação

DEVOLUÇÃO

O MPF requer do ex-presidente da Jurong o pagamento de dano mínimo para a Petrobras no montante de US$ 10.366.264,03, equivalente a R$ 43.643.008,191. O valor corresponde ao total repassado a título de vantagens indevidas em contratos firmados pela Jurong com a administração pública federal. Ainda prevê o bloqueio de bens do ex-presidente no valor de US$ 9.033.710,13, correspondente a R$ 38.032.823,021, relativo ao recebido de Guilherme a partir das operações de lavagem de dinheiro.

Em relação a Guilherme, o valor do bloqueio é de US$ 24.507.238,65, correspondente a R$ 103.177.925,442, relativo ao montante utilizado nos atos de corrupção.

Para o procurador da República Júlio Noronha, "uma das principais frentes de atuação da força-tarefa é a apuração da atuação ilegal de empresas internacionais que participaram de esquemas de corrupção na Petrobras. Essa atuação permite, além de punir criminosos, recuperar os valores desviados junto a multinacionais".

OUTRO LADO

A reportagem tentou contato ao longo desta sexta-feira (31) com as defesas de Guilherme Esteves de Jesus e de Martin Cheah Kok Choon, mas não foi possível localizá-los. A Gazeta também acionou o Estaleiro Jurong Aracruz e aguarda posicionamento.

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