A decisão do juiz federal Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato, de assumir o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro, dividiu a opinião de entidades ligadas à área jurídica e ao controle social do Espírito Santo. Embora reconheçam a grande capacidade técnica do magistrado, que completou mais de 20 anos de carreira no Judiciário, chama a atenção para a avidez dele em aceitar o convite, que já havia sido feito ainda na campanha eleitoral, segundo o vice-presidente eleito, Hamilton Mourão.
O presidente da Associação dos Magistrados do Espírito Santo (Amages), Daniel Peçanha, avaliou a decisão como corajosa, tendo em vista que Moro abre mão de uma carreira que possui estabilidade e é vitalícia. "Vejo que o Brasil que perdeu um grande juiz, mas ganha um grande ministro. Ele já demonstrou que é bastante capacitado, técnico, tem muito conhecimento na área criminal. Mesmo que tenha ganhado fama no combate à corrupção, é experiente em áreas que envolvem o ministério, pois já trabalhou em processos de tráfico internacional, questões que envolvem estrangeiros", afirma.
O secretário-geral da ONG Transparência Capixaba, Rodrigo Rossoni, espera que a pauta de combate à corrupção entre de forma mais direta na agenda do governo, com a presença de Moro na Esplanada dos Ministérios. "Que as polêmicas politico partidárias sejam superadas, e que sua atuação seja tão rigorosa quanto o comportamento dele como juiz. Que ele aja com transparência em seus atos", disse.
Já o presidente da OAB no Espírito Santo, Homero Mafra, entende que embora esta seja uma decisão pessoal de Moro, ela reforça a narrativa de suspeição dele em relação aos julgamentos do principal adversário de Bolsonaro, o PT. "Mostra, no mínimo, uma afinidade, uma opção ideológica. Pode ser visto como alguém que prestou um serviço tirando o PT do páreo, para beneficiar um lado do jogo político. E qualquer suspeita que se lance sobre o Judiciário é muito ruim", disse.
Ele lembra que outro fato que pode ser levado em consideração, na análise, foi quando Moro tirou o sigilo de parte da delação do ex-ministro Antonio Palocci que cita o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva, a menos de uma semana do primeiro turno eleitoral.
Para os representantes das entidades, a Operação Lava Jato não deve ser enfraquecida, somente pela saída de Moro. "A Justiça não é feita por superhomens. Moro sai, mas os processos vão continuar. O combate à corrupção não tem que se personificar em uma só pessoa. Há todo um trabalho sendo feito, além do dele", afirma Mafra.
O presidente da Amages corrobora. "Há a juíza adjunta (Gabriela Hardt), que deve ter tanto conhecimento quanto ele. Ela deve ter que estudar um pouco mais, começar do zero alguns processos, o que é comum quando alguém está em uma vara há muito tempo e sai. Pode levar um certo tempo, mas certamente será alguém com capacidade técnica", acredita.
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