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Rio Reis Magos: 'Captação pode ter agravado assoreamento'

Rio Reis Magos: "Captação pode ter agravado assoreamento"

Especialistas explicam que a retirada de água para o abastecimento reduz a vazão do rio

Publicado em 4 de julho de 2018 às 00:35

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Saída de água no Reis Magos: 14 milhões de litros de esgoto caem no rio por mês. (Marcelo Prest)

Em Nova Almeida, na Serra, o Rio Reis Magos é uma região de estuário, ou seja, onde o rio encontra o mar. Especialistas explicam que o assoreamento que criou os bancos de areia na região pode ter sido agravado após o início da captação de água Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) porque o rio estaria sem forças para carregar sedimentos até o mar.

“Como a captação reduz a vazão do rio, consequentemente ele fica com menos força para transportar os sedimentos que ficam no caminho, e pode ter agravado o assoreamento”, explica a professora do departamento de oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Jacqueline Albino.

Quando a maré sobe, especialmente, a força do mar acaba fazendo um transporte de sedimentos sentido rio. Isso faz com que eles fiquem depositados na área fluvial.

Como estamos em uma época mais seca do ano, com menor volume de chuva, esse problema pode estar ainda mais instensificado, explica Jaqueline. “Em época de chuva (entre outubro e março, em geral) a vazão deve aumentar e amenizar a situação.”

O oceanógrafo Leonardo Azevedo Klumb Oliveira reforça que a captação pode estar provocando a redução da vazão. Ele detalha que em região de estuário os rios descarregam os sedimentos na zona costeira do mar, para que as correntes marítimas os redistribuam ao longo de todo o litoral.

O especialista pontua que o carregamento de sedimentos tem pontos positivos, pois quando eles chegam ao mar protegem a costa da erosão. No entanto, a situação se torna negativa quando eles ficam presos ao longo do curso fluvial por perda de força do rio. “Quando a vazão está baixa, o rio não tem força para transportar as partículas para o mar, principalmente de areia”, completa.

Apesar dessa possibilidade, Jaqueline destaca que o assoreamento em rios pode ocorrer de diversas formas, não só ocasionada pelo homem, mas também de forma natural.

ESGOTO TAMBÉM PREOCUPA MORADORES

Um outro problema que está incomodando pescadores e moradores de Nova Almeida, na Serra, é a situação do esgoto que cai no Rio Reis Magos. O metalúrgico Jackson Gomes da Silva, de 37 anos, diz que há seis pontos de dejetos que jorram no rio.

Ele diz que isso vem atrapalhando o fluxo de turistas já que a água está imprópria para banho há anos. “As casas jogam esgoto nos córregos, que desaguam no rio. Em contrapartida, não há fiscalização de órgãos públicos para multar. O local está abandonado”, disse.

Segundo a gestora da Unidade de Parceria Público-Privada (PPP) da Cesan, Jouze Ferrari, 64% dos imóveis de Nova Almeida possuem rede disponível para se ligarem. Destes, no entanto, só 58% estão tratando o esgoto gerado. Devido a isso, 14 milhões de litros de esgoto por mês são lançados no rio sem tratamento.

“A Cesan coleta e trata o esgoto de todos os imóveis que estão ligados na rede. Por isso, a Companhia orienta os moradores que possuem rede disponível para fazer a ligação ao sistema de tratamento, evitando poluir o meio ambiente”, disse.

Ela completa que no planejamento da Cesan, junto com a sua parceira privada, a Serra Ambiental, a disponibilidade de rede será universalizada até 2023. “A expectativa é que todos possam se interligar para melhorar a balneabilidade do local”, destaca.

A secretária de Meio Ambiente da Prefeitura da Serra explica que o executivo é o responsável por fiscalizar se os imóveis estão interligados à rede e, por isso, intensificou esse trabalho. “Caso seja constatada a irregularidade, os donos dos imóveis podem ser notificados e até multados, as pessoas podem denunciar esses casos irregulares”, frisa.

CESAN: OCUPAÇÃO CAUSOU PROBLEMAS

O presidente da Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan), Amadeu Wetler, afirmou que a captação da Cesan não tem relação com o assoreamento do Rio Reis Magos. Atualmente, estão sendo captados 300 litros de água por segundo, menos do que a capacidade total, de 500 litros.

“O assoreamento é fruto da própria ocupação desordenada que foi se construindo com o tempo. A captação ocorre há 15 quilômetros do local indicado e ela corresponde a 3% da vazão do rio, que é de 10 mil litros por segundo”, diz.

PROJETOS

 

Ele diz que a Cesan não possui projetos voltados ao assoreamento “porque o problema não é de origem da companhia”. No entanto, afirma que pode disponibilizar profissionais para esclarecer os fatos aos pescadores e moradores.

A secretária de Meio Ambiente da Serra, Áurea Almeida, relatou que um estudo morfodinâmico (sobre sedimentos) está sendo realizado no litoral capixaba e na foz de rios para apontar quais são os problemas em cada ponto, como erosão e assoreamento. Dessa forma, será possível apontar soluções para serem executadas. O estudo tem previsão de ficar pronto no primeiro semestre de 2019.

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“A gente só pode fazer algum tipo de obra após o diagnóstico, que vai apontar possíveis causas e soluções. A partir disso vamos avaliar se há necessidade de ampliar o estudo.”

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