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Preso considerado perigoso foi retirado da cadeia 11 vezes, denuncia MPES

Preso considerado perigoso foi retirado da cadeia 11 vezes, denuncia MPES

Em uma das saídas, fugiu da recepção de delegacia

Publicado em 16 de outubro de 2018 às 09:59

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Preso esteve duas vezes na delegacia de Jacaraípe, na Serra, com o pretexto de prestar depoimento. (Carlos Alberto Silva)

Por 11 vezes um detento considerado perigoso foi retirado de dentro da penitenciária por delegados e policiais civis, no período de apenas quatro meses, e acabou fugindo na última saída. Com o pretexto de prestar depoimentos, o preso passava horas recebendo privilégios como acesso a telefone, refeições diversas e visitas íntimas. Em uma dessas ocasiões, fugiu da recepção.

A trama foi descrita em ação penal movida pelo Ministério Público Estadual (MPES) e que possui como atores principais o delegado Judson de Oliveira Marques, o advogado Felipe Campos Barbosa dos Reis, o estagiário dele, Alexander dos Santos Ribeiro.

Os três estão presentes em outras ações do MPES sobre a venda ilícita de carros apreendidos, indicando forte ligação entre eles. O trio contava ainda com a participação de outras pessoas nos esquemas ilegais.

No favorecimento ao detento Leandro Constantino Duarte, 32, acusado de homicídios no município de Cariacica e então preso em Viana, também participaram do esquema o delegado Leonardo Ávila de Paschoa, os policiais Wanderson Guizan Costa e Carlos Luciano Santos Bocayuva, todos réus no processo.

Foram denunciadas ainda a escrivã Lorena Dadalto e a policial Sabrine Nunes por prevaricação, pois sabiam da situação e não agiram, segundo o MPES.

O CASO

Em 10 de maio de 2016, Lorena Bongestab, amiga do estagiário Alexander, foi à Delegacia Distrital de Jacaraípe, na Serra, e registrou um boletim de ocorrência pelo crime de ameaça contra o preso Leandro. Lorena não conhecia o preso, mas fez a falsa denúncia a pedido do amigo e do chefe dele, Felipe, advogado do detento.

Segundo o MPES, o delegado Leonardo era amigo do estagiário Alexander e foi quem sugeriu o registro do boletim falso. A denúncia mentirosa foi usada como pretexto para retirar o preso duas vezes da penitenciária – em maio e julho – para que, supostamente, prestasse depoimento na delegacia.

Outras nove vezes o detento foi retirado do presídio, dessa vez por solicitação do delegado Judson, na época titular da Delegacia de Novo Horizonte, na Serra. Em média, o presidiário saiu uma vez a cada dez dias para ser ouvido em delegacias distritais, o que não é comum, segundo o MPES. Também chamou a atenção o fato de nenhum dos registros criminosos de Leandro ser na Serra, sendo que o próprio presidiário nega ter praticado qualquer ato ilícito no município.

No dia 29 de julho de 2016, o homicida foi retirado do Centro de Detenção Provisória II de Viana pelo delegado Judson e pelo investigador Wanderson. Ambos tomavam conta sozinhos de Leandro e este conseguiu escapar de dentro da delegacia. Em depoimento, o preso disse que usou um pedaço de arame do chão para se soltar e que estaria sozinho na recepção.

O MPES afirma que, após a fuga, não houve chamado para reforço de buscas por parte do delegado.

SAÍDA E FUGA

Denúncia

Suposta ameaça

Em 10 de maio de 2016, Lorena Bongestab foi à Delegacia Distrital de Jacaraípe, na Serra, e denunciou o preso Leandro Constantino Duarte por ameaça. Fez uma denúncia falsa a pedido do defensor de Leandro, o advogado Felipe Campos Barbosa dos Reis, cujo estagiário, Alexander dos Santos Ribeiro, é amigo de Lorena.

Saída

Preso

A falsa denúncia serviu de pretexto para que o delegado Leonardo Ávila retirasse o preso duas vezes do presídio, uma vez em maio e outra em julho, para, supostamente, prestar depoimento na delegacia. Ávila era amigo de Alexander e teria dado a ideia do boletim de ocorrência falso.

Outras

Outro delegado

O detento conseguiu sair outras nove vezes do presídio, em quatro meses, por solicitação de Judson de Oliveira Marques, na época titular da Delegacia de Novo Horizonte, na Serra. Ficava o dia fora.

Regalias

Na delegacia

O preso tinha regalias na delegacia, como visitas íntimas, acesso a telefones e refeições especiais. No dia 29 de julho de 2016, em uma dessas supostas saídas para prestar depoimento, ele fugiu com a facilitação de Judson e do policial Wanderson Guizan, uma vez que tomavam conta sozinhos do preso.

DENUNCIADOS NEGAM PARTICIPAÇÃO NOS CRIMES

O delegado Leonardo Ávila, réu no processo da facilitação de fuga, informou que já foi notificado sobre a ação, mas que ainda não foi ouvido. “Quando for possível fazermos a nossa defesa, durante o decorrer do processo, vamos demonstrar que os fatos não são verdadeiros”, declarou.

Já o delegado Judson de Oliveira Marques não foi localizado pela reportagem, assim como o advogado Felipe Campos Barbosa dos Reis e Arlesson dos Santos Ribeiro. A escrivã Lorena Dadalto não quis se manifestar.

O investigador Wanderson, acusado de facilitar a fuga do preso, negou conhecer o motivo pelo qual o preso foi levado para a delegacia tantas vezes. “Eu apenas cumpria ordens. O delegado me mandou buscar o preso e eu ia lá e buscava. Não questionava”, alegou. O investigador disse que foi autorizado pelo delegado a deixar o preso na recepção. “Eu o deixei algemado nos pés e nas mãos, pois o delegado estava recebendo alguém, e fui à outra recepção atender quatro pessoas. Dei ciência ao delegado sobre a fuga e ele se mostrou surpreso. Não facilitei”, enfatizou.

Carlos Luciano Bocayuva que disse que entraria em contato com seu advogado, mas não atendeu mais as ligações da reportagem. Sabine Nunes afirmou que não poderia denunciar algo de que não tinha conhecimento. “Eu não tenho o que dizer, em momento algum eu estive presente”, alegou. Lorena Bongestab não atendeu às ligações.

Já Alexander dos Santos Ribeiro negou envolvimento nos crimes em que é citado. “A denúncia não é verdadeira. Isto é armação do antigo vendedor do carro com um procurador. Ninguém sabia da existência dos documentos falsificados”, disse sobre a venda da caminhonete.

A reportagem também tentou contato com Jeferson do Sacramento, porém, ele desligou o telefone.

AFASTAMENTOS

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Por nota, a Polícia Civil informou que ainda não foi notificada sobre o afastamento do delegado Judson Marques e do investigador Jefferson Borges. Disse ainda que as investigações foram iniciadas pela Corregedoria e que após a conclusão, os inquéritos foram encaminhados ao Ministério Público do Espírito Santo, que acatou os pedidos de afastamento dos servidores. Acrescenta que “a Polícia Civil não coaduna com atitudes antiéticas”. Quanto ao processo da fuga de preso, informa que não inquéritos “são comentados antes de sua finalização”.

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