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'Não estamos aqui para lamentar cortes', diz presidente do COB

"Não estamos aqui para lamentar cortes", diz presidente do COB

Paulo Wanderley cresceu no Espírito Santo, onde iniciou sua carreira no esporte. Hoje tem o duro desafio de recuperar a credibilidade da instituição

Publicado em 17 de fevereiro de 2018 às 23:32

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Paulo Wanderley assume temporariamente a presidência do COB. (Divulgação)

Desconfiança, falta de credibilidade e um futuro obscuro. Esse foi o cenário que Paulo Wanderley Teixeira encontrou ao assumir a presidência do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), em outubro do ano passado, quando seu antecessor Carlos Arthur Nuzman foi preso na Operação Unfair Play e renunciou o comando da entidade. Desde então já se passaram quatro meses, e a cada dia, o nordestino que foi acolhido pelo Espírito Santo aos cinco anos de idade, se esforça para mudar a imagem de uma das instituições mais importantes do país.

Trabalhar com esporte no Brasil não é uma tarefa das mais fáceis. A crise afetou em cheio as fontes de patrocínio. Até o Ministério do Esporte sofreu um duro corte no orçamento. Inversamente proporcional às escassas fontes de renda, do outro lado dessa realidade só aumenta o número de atletas que sonham em obter um lugar ao sol.

Paulo Wanderley Teixeira entende que ocupa um cargo de grande responsabilidade. Em entrevista ao Jornal A Gazeta, o presidente do COB relatou os percalços no início do trabalho, dos próximos desafios e do legado que espera deixar na instituição.

Em pouco mais de quatro meses já é possível assimilar o tamanho do desafio que é estar à frente do Comitê Olímpico Brasileiro?

Sem dúvida. São meses de muito trabalho e decisões difíceis, porém importantes. Digo quase todos os dias que o imenso desafio que estamos enfrentando no COB é do tamanho da oportunidade que temos para modernizar e fortalecer a entidade na direção certa. O COB trabalha para que os atletas brasileiros conquistem medalhas, mas também com a missão de fazer do esporte uma referência para a nossa sociedade, incluindo milhões de jovens e crianças de todo o país.

Nuzman foi preso em uma operação que investigou fraudes no processo de escolha do Rio de Janeiro como sede e organização do Jogos. O COB passou a ter sua confiabilidade questionada. Como lidar com isso e recuperar a credibilidade da instituição?

Primeiramente, é importante destacar que o processo pelo qual Nuzman está sendo investigado diz respeito aos Jogos Olímpicos Rio-2016, cuja organização não coube ao COB. O esporte, que é a atividade-fim do COB, não sofreu impactos. Todos os projetos seguem seu curso normal. Mas sabemos que o momento é delicado e requer mudanças. Estamos trabalhando para implementar medidas que aumentem a governança e a transparência no COB. A aprovação do novo estatuto do COB já é resultado dessa nova política, a partir do diálogo e consulta a vários setores da sociedade. Com o novo estatuto, atendemos a uma antiga reivindicação da comunidade esportiva e agora os atletas terão mais representatividade na Assembleia do COB. Além disso, a partir de agora, qualquer brasileiro maior de 18 anos pode se candidatar à presidência do COB. Esses são dois exemplos de mudanças importantes que estamos tomando em busca do fortalecimento da credibilidade do COB.

Como foi fazer parte da administração Nuzman? Acha que o escândalo respingou no seu nome?

Fui eleito como vice-presidente do COB, portanto conto com o apoio da Assembleia do COB. Esportivamente, o Nuzman realizou um grande trabalho pelo esporte brasileiro. Então, ele fez o trabalho dele, e eu estou fazendo o meu. Darei continuidade ao que deu certo e estou implementando as mudanças que julgo necessárias, como a reforma do Estatuto, a maior participação dos atletas nos processos decisórios do COB, além de uma reestruturação financeira, que inclui cortes administrativos e de pessoal.

Quais pontos serão prioridades para que a sua administração se distancie da era Nuzman e alcance confiabilidade?

Aos poucos estou trazendo o meu estilo de trabalho para o Comitê Olímpico do Brasil. Meu perfil é de diálogo. Quero maior aproximação do COB com os atletas, treinadores, Comitê Brasileiro de Clubes, Ministério do Esporte, Confederações e todos os agentes organizados que lidam diretamente com o esporte de alto rendimento. Além disso, tenho várias outras ideias que já estão sendo colocadas em pauta, como a alteração do estatuto do COB, a mudança da sede em 2018 para o parque Aquático Maria Lenk e o enxugamento do quadro funcional.

Transparência e fiscalização dos recursos serão pontos de referência da sua administração?

Austeridade, Meritocracia e Transparência são palavras de ordem no COB sob a minha gestão. Desde que assumi à Presidência estou implementando cortes de custos e de funcionários para adequar o COB à realidade atual do país. Pretendo fazer com que esse exemplo seja seguido em todas as Confederações Olímpicas do país.

Durante os 16 anos em que administrou o CBJ, o judô passou por uma transformação e se tornou um dos esportes mais vitoriosos do Brasil. Essa experiência bem-sucedida pode ser repetida no esporte olímpico do Brasil em sua totalidade?

Sim. Assumi a CBJ em total descrédito, falida financeiramente, sem patrocinadores e com problemas de relacionamento com os atletas. Em pouco tempo, com a ajuda de meus colaboradores, conseguimos transformar a Confederação em uma entidade vencedora que, através de seus atletas, encheu o Brasil de orgulho com as medalhas conquistadas nas principais competições do calendário internacional.

Como é a sua relação com os atletas? Nuzman não era muito bem visto pela categoria e era alvo de protestos. Como isso influencia sua gestão?

Não tenho conhecimento desses fatos que você apresenta sobre a gestão anterior. O COB existe por causa dos atletas, e é para eles que vamos seguir trabalhando.Temos uma Comissão de Atletas do COB presidida por um judoca medalhista olímpico, o Tiago Camilo. A função da Comissão é fazer chegar ao COB os anseios da comunidade esportiva brasileira. Na minha gestão, a comissão e os atletas terão cada vez mais espaço na entidade. É preciso ouvir a todos. Uma prova disso é o aumento da participação dos atletas na Assembleia do COB, alteração no estatuto da entidade muito comemorada pela comunidade esportiva brasileira.

Como está a relação do COB com o Comitê Olímpico Internacional após os últimos acontecimentos?

Desde que assumi, a relação com o COI é muito boa. Eles estão a par de todas as mudanças que estamos implementando.

Qual é a estratégia do Comitê Olímpico Brasileiro para recuperar os patrocínios que foram perdidos?

Não estamos aqui para lamentar cortes no orçamento, pois sabemos das dificuldades que o país atravessa. O Ministério do Esporte ainda negocia com o Governo o tamanho de seu orçamento para o ano que vem, portanto é cedo para comentar. Sabemos que os principais projetos – como o Bolsa Atleta – estão preservados.

Quais são as principais medidas do comitê para este ano já visando os Jogos Olímpicos de Tóquio?

O COB realizará uma gestão mais assertiva para que possamos melhorar o trabalho com nossos atletas. Além disso, vamos seguir dando o suporte necessário para que os principais atletas brasileiros tenham boa estrutura de treinamento e realizem uma ótima preparação para as competições internacionais, principalmente os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Estamos sempre em contato com as Confederações para complementar o suporte dado aos atletas e equipes, seja através de trabalho com ciências do esporte, contratação de treinadores, intercâmbio internacional e outras ações nesse sentido. O mais importante nesse momento é preservar os avanços conquistados pelo esporte brasileiro nos últimos anos para que a rotina de preparação dos atletas não seja afetada.

É possível melhorar a colocação do Brasil no ranking de medalha dos próximos Jogos Olímpicos? O que é preciso para isso acontecer?

O desafio é proporcional à vontade de ter um resultado melhor. Ainda não consigo estabelecer uma meta. Mas vou fazer o mesmo que fazia na Confederação Brasileira de Judô, que é cobrar bastante. Vale ressaltar que a área de esportes do COB está sempre em contato com as Confederações. Nada é feito com uma modalidade sem o conhecimento das Confederações. Na minha gestão esse contato está sendo ainda mais intensificado. Vamos seguir dando o suporte necessário para que nossos atletas tenham boa estrutura de treinamento que possibilite a evolução dos resultados alcançados nas principais competições do calendário internacional.

O início da sua carreira foi no Espírito Santo, onde morou por bastante tempo. Qual a importância do Estado para sua formação no esporte?

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Sou muito grato ao Espírito Santo, Estado que me recebeu muito bem, ainda menino. Sou nordestino, nascido no Rio Grande do Norte, mas fui para Vitória com a minha família quando tinha 5 anos. Foi em Vitória que comecei a praticar o judô e me tornei atleta. Mais tarde me formei em Educação Física, iniciando a minha trajetória primeiro como árbitro, treinador, e cheguei a técnico da Seleção Brasileira. Posteriormente iniciei minha experiência como dirigente da modalidade. Antes de chegar à presidência da Confederação Brasileira, fui presidente da Federação de Judô do Espírito Santo. Então posso dizer que toda a minha formação esportiva se deu no estado. Devo muito do que conquistei ao longo dos anos à base construída no Espírito Santo.

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