Publicado em 1 de novembro de 2017 às 01:48
O dia de Sayonara, de 33 anos, na praça Costa Pereira, em Vitória, começa sem água para lavar o rosto, escovar os dentes, e um espelho para conferir o visual. Há sete anos em situação de rua, a vaidade foi aos poucos deixando de fazer parte de seu cotidiano. Porém, mesmo com as adversidades que a vida lhe impôs, precisava de pouco para reencontrar a autoestima quase perdida. Eram apenas oficinas de artesanato, corte e costura, mas com significado imensurável.>
Sayonara, que não revelou o sobrenome, participou das oficinas junto com mais 15 mulheres, entre elas cinco mulheres trans, no Centro de Referência de Assistência Social para a População de Rua da Prefeitura de Vitória (Centro-Pop), e o resultado foi apresentado em um desfile, em que elas próprias foram as modelos nesta terça-feira (31). Além das roupas, bolsas e bijuterias o sorriso foi assessórios obrigatório.>
É uma felicidade que você nem imagina. Não consigo nem falar, porque é uma alegria grande para mim. Esses anos todos vindo aqui e agora participar desse evento mexe com a gente, disse Sayonara empolgada com a receptividade de quem acompanhou o desfile.>
O desfile com o tema: "Sou livre, sou linda, sou luta e sou minha" faz parte das reflexões de autoestima promovida durante as palestras e dinâmicas sobre empoderamento, maternidade e sexualidade realizadas junto às oficinas. A mulheres apresentaram as roupas e acessórios que elas mesmo produziram nas oficinas de corte e costura.>
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EMPODERAMENTO >
A professora Jupiara Francisco, de 47 anos, explica que o desfile é uma forma de empoderamento para as mulheres.>
Como minha oficina é de costura, a gente pensou em uma forma delas se vissem de forma melhor. O desfile é uma desculpa para o empoderamento. Creio que quando você descobre o valor que tem, vai se valorizar e as outras pessoas também, contou.>
O Centro de Referência de Assistência Social para a População de Rua da Prefeitura de Vitória (Centro-Pop), localizado próximo ao Sambão do Povo, na capital, oferece alimentação e higienização. Os usuários também têm atendimento psicossocial e participam de oficinas socioeducativas.>
Quis que elas se vissem de uma forma melhor - Jubiara Francisco, professora>
A professora artesanato e costura, Jubiara Francisco, conta que o relacionamento pessoal foi imprescindível para envolver as acolhidas.>
Foi difícil envolver os acolhidos?>
Achei que seria. Foi um trabalho meio que voltado para o marketing pessoal, para poder envolvê-los, gerar um relacionamento e depois produzir. Criou-se uma relação de confiança.>
Qual foi aplicado?>
Foi realizado um trabalho de empoderamento. Na sala tinha cinco mulheres trans, e todos se sentiram bem. Sempre falei que respeito gera respeito e isso foi acolhido. Como minha oficina é de costura, a gente pensou em uma forma delas se vissem de forma melhor. Nosso trabalho é uma desculpa para o empoderamento. Creio que quando você descobre o valor que têm, vai se valorizar e as outras pessoas também.>
As oficinas são uma oportunidade para as pessoas em situação de rua?>
Aqui é um local que você pensa além. A oficina de costura é uma oportunidade de se conseguir um curso, de depois ter uma renda. A gente trabalha muito isso. É uma oportunidade também deles conhecerem seus direitos.>
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