Dados relativos à capacidade dos hospitais de abrigarem pacientes do novo coronavírus revelam que o Espírito Santo possui quase a totalidade dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) necessários para atender aos casos mais graves. No entanto, o Estado tem um déficit de 1.588 leitos de enfermaria, que seriam necessários para abrigar quem tiver um quadro de gravidade intermediária da doença o que o coloca na segunda pior posição de todo o país.
De acordo com o levantamento do Ministério da Saúde, obtidos e divulgados pelo jornal O Globo, o Espírito Santo tem uma defasagem que ultrapassa os 1.600 leitos dos quais apenas 15 seriam do tipo UTI, destinado aos pacientes em pior estado de saúde. O ideal, de acordo com o documento, é que todos eles fossem disponibilizados em um prazo de 30 dias. Ou seja, até o final deste mês de abril.
Para o mesmo período, o Estado capixaba também precisaria ter 372 leitos de UTI 15 a mais do que possui ou está criando, de acordo com as respectivas informações. Porém, segundo os dados passados pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), o cenário poderia ser ainda pior.
Isso, porque a pasta prevê a existência de 339 leitos do tipo, exclusivos para o atendimento de pacientes infectados pelo novo coronavírus. Deles, 240 tem previsão de ficarem prontos até julho. O que significa que aproximadamente 70% das UTIs poderiam estar disponíveis cerca de dois meses depois do ideal.
Tais estimativas registradas pelo Ministério da Saúde datam do último dia 27 de março. Além das quantidades de leitos, o documento também revela que 17 Estados têm mais de 70% deles ocupados. A média nacional gira em torno de 78%. Sem a taxa divulgada, sabe-se apenas que o Espírito Santo não aparece entre os três piores.
A Gazeta entrou em contato com o Ministério da Saúde e com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) na segunda-feira (30) e na terça-feira (31) para obter mais detalhes a respeito da situação capixaba. No entanto, até o momento de publicação desta reportagem, não tinha obtido retorno algum.
Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado (CRM-ES), o médico Celso Murad disse ser difícil analisar os dados de forma isolada. É possível que passemos por esse momento bem, apesar desse cenário; e que o Estado com um quadro melhor, sofra mais. Depende da curva da doença que será registrada em cada lugar, afirmou.
Consequentemente, ele ressaltou a importância do isolamento social. Se tiver muitos casos de internação ao mesmo tempo, esse número de pacientes simultâneos irá superar a nossa capacidade assistencial. A quarentena é justamente para tentar distribui-los ao longo de um período maior e não saturar o nosso sistema, explicou.
Com doutorado em pacientes críticos respiratórios, a médica intensivista Eliana Caser tem uma opinião semelhante, mas crava que haverá deficit de leitos para atender os pacientes da pandemia. Em uma situação de normalidade, o Espírito Santo tem 1,19 leito de UTI para 10 mil habitantes. Em condição de pandemia, com certeza, esses leitos estão aquém da necessidade, afirmou.
Também professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), ela esclarece que a capacidade de atendimento é diminuída em cenários como o atual. Pacientes graves da Covid-19 ficam cerca de duas a três semanas na UTI, mais que o dobro do tempo normal. Por isso, é preciso fazer um plano de contingenciamento e fazer hospitais de campanha, defendeu.
Além disso, tanto Eliana quanto Murad alertam para as consequências que a transmissão do novo coronavírus pode ter nos recursos humanos. Quem trabalha na linha de frente também ficará doente e precisará ser substituído, disse ela; enquanto o presidente do CRM-ES ressalta que os profissionais da saúde já sofrem com a falta de equipamentos de proteção individual.
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