Estudos matemáticos apontam que se houver aumento da interação social na Região Metropolitana do Espírito Santo, o número de internações por causa do novo coronavírus em Vitória, Serra, Cariacica e Vila Velha pode aumentar em 48% (estimativa de 576 casos) até a próxima quarta-feira (6). No mesmo período, a mudança resultaria em 30,6% (252 óbitos) no índice de mortes.
De acordo com dados do Painel Covid-19, a Grande Vitória já registra 83,33% de utilização dos leitos de UTI para atendimento aos diagnosticados com a Covid-19. Os dados coletados nesta quarta-feira (29) indicam que das 156 vagas, em 130 há pessoas internadas por apresentarem um quadro clínico mais agravado da doença.
O índice acende um sinal de alerta no governo do Estado, uma vez que a taxa de ocupação é um indicador para adoção de novas medidas de enfrentamento à pandemia no Espírito Santo.
A análise da propagação da pandemia a partir de modelos matemáticos apresenta dois cenários relacionados a número de pacientes hospitalizados (seja enfermaria ou UTI) e a número de mortes na Grande Vitória. O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
O diretor-presidente do Instituto Jones, Pablo Lira, ressalta que as projeções indicam que as medidas restritivas e o cumprimento do isolamento social tem surtido efeito no Espírito Santo. A estimativa do governo é que o pico da doença seja registrado na primeira quinzena de maio.
O nosso isolamento social estava em 65% no dia 23 de abril. Quando teve o decreto, em março, chegou a quase 70%. Nesta semana a média era de 50%. É importante a sensibilização das pessoas e também do setor comercial no entendimento de que esse é um período que temos de ter um rigor para evitar que a curva se estenda e comprometa nosso sistema de saúde, disse.
Os parâmetros utilizados no modelo de cálculo foram definidos da seguinte forma:
Do conjunto de variáveis apresentadas, no dia 21 de abril foram simulados 2.880 cenários. O objetivo era observar aquele que mais se assemelhava aos dados de hospitalizados da Grande Vitória entre os dias 31 de março a 13 de abril. Esse intervalo de datas foi escolhido, porque datas muito próximas do dia atual desconsideram os pacientes que não tiveram resultados dos exames.
O gráfico em azul representa o cenário mais adequado e sua previsão até o dia 15 de maio é que o número máximo de hospitalizados seja 390. O estudo destaca que a interação social altera fortemente as proporções da pandemia e medidas adotadas pelo governo refletem diretamente nessas interações.
Além disso, só é possível perceber mudanças no comportamento da pandemia após, em média, 14 dias de mudanças na interação social. Para tentar prever mudanças de comportamentos ocorridas semanas antes da simulação, os pesquisadores geraram duas curvas com aumento na interação social de 5% e 10%.
Com 5% de aumento de interação entre as pessoas, houve um aumento de aproximadamente 22% no número de hospitalizados no dia crítico na Grande Vitória. Já um aumento de 10% na interação social leva um aumento de aproximadamente 48% no número de hospitalizados.
Em relação ao número de mortes, os dados analisam os mesmos cenários dos casos hospitalizados. O aumento de 5% de interação social provoca um aumento de 14,5% no número de mortes, enquanto um acréscimo de 10% na interação social provoca um aumento de 30,6% nos óbitos na Grande Vitória.
Um dos responsáveis pelo estudo, o professor da Ufes, doutor em Matemática, Etereldes Gonçalves Júnior, destaca que as modelagens matemáticas utilizam parâmetros que podem se modificar no tempo e de acordo com mudanças nas estratégias adotadas tanto na definição de casos, como mudanças não previstas nas interações pessoais e no isolamento social.
As projeções são indicativos de tendências, os números não devem ser tomados como absolutos e não devem ser usados para prever o pico da epidemia. As tendências sinalizam para um cenário de ascendência nas curvas epidêmicas, especialmente as curvas de hospitalizados e óbitos, que são menos sensíveis a alterações nos protocolos de testagem, analisou o pesquisador.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta