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Especialistas explicam possível relação entre AVC e Covid-19

Especialistas explicam possível relação entre AVC e Covid-19

Médicos explicam que há estudos em que o paciente teve AVC e, logo após, apresentou sintomas de Covid-19 devido à inflamação de vasos sanguíneos

Publicado em 26 de maio de 2020 às 19:46

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Exame cerebral é realizado em hospital
Estudos sobre relações entre AVC e Covid-19 são recentes. (Shutterstock)

Dez dias depois de sofrer um Acidente Vascular Cerebral  (AVC), a primeira-dama do Estado, Maria Virgínia Casagrande, testou positivo para o coronavírus. A situação da primeira-dama chamou a atenção para a possibilidade de relação entre a Covid-19 e o AVC. A reportagem de A Gazeta ouviu especialistas, e eles explicam que existem hipóteses sendo estudadas sobre o assunto e como isso poderia acontecer no organismo humano.

As análises surgiram a partir de relatos feitos por médicos de vários países. Em artigo publicado no periódico Cell Press, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apontam evidências de que o coronavírus poderia culminar em encefalite — uma inflamação severa do cérebro. Isso ajudaria a explicar sintomas como a confusão mental e dores de cabeça.  Já pesquisas publicadas pela revista Jama Neurology, da Associação Médica Americana,  apontaram que 36% de 214 portadores da doença apresentaram algum problema cerebral.  

O neurologista da Rede Meridional, José Antonio Fiorot Júnior, explica que não existe um posicionamento definitivo sobre a ligação entre o ataque do coronavírus no organismo e o AVC. No entanto, há hipóteses baseadas em observações com pacientes. "O que sabemos é que as formas graves da Covid-19 cursam para o estado pró-trombótico, o sangue fica grosso como se fala popularmente. A doença causa coágulos que entopem vasos sanguíneos e que, comumente, provocam a insuficiência respiratória", pontua.

É exatamente esse mesmo fenômeno de coagulação que aumenta as chances de trombose em outras partes do corpo, inclusive nos vasos que levam o sangue para o cérebro. "O que temos encontrado em relatos da literatura e aqui no Estado, são pacientes admitidos no hospital  com AVC na forma clássica, com paralisia facial e de parte do corpo, sem nenhum sintoma de Covid-19. Porém,  de três a quatro dias depois o paciente começa a apresentar os sintomas de contaminação pelo coronavírus", observou o médico.

Fiorot disse que isso intriga a classe médica, pois sustenta  a tese do AVC  ser o primeiro sintoma do coronavírus, mesmo não sendo o mais lógico. "O mais comum é a forma clássica da Covid-19, com os problemas respiratórios graves. Na fase seguinte,  cerca de sete dias depois dos primeiros sintomas, vem a fase pró-trombótica que pode dar ensejo a um AVC", observou o neurologista.  

No entanto, isso não descarta que uma contaminação do paciente de AVC possa ter ocorrido dentro do hospital ao ser socorrido.

Data: 12/03/2020 - Profissional em laboratório realiza teste de coronavírus. Freepik
Um total de 39.612 testes de coronavírus já foram realizados no Espírito Santo. (Freepik)

CORONAVÍRUS PODE SER UM GATILHO PARA O AVC

A médica capixaba Margareth Dalcomo, que é pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), também pontua  que o vírus possa ser o estopim do AVC. 

"O coronavírus é capaz de atravessar a barreira hematoencefálica. Ele realmente entra no sistema nervoso central, portanto é capaz de provocar alguns fenômenos, sejam  hemorrágicos ou isquêmicos. Isso é ligado à doença. A doença tem manifestações muito diversificadas. Em algumas pessoas, predominam os sintomas respiratórios, em outras, os renais. Alguns fenômenos cardiológicos também podem ocorrer, de modo que ela é uma doença muito polimorfa", explicou Dalcomo.

A médica e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcomo, em entrevista à TV Gazeta
Médica e pesquisadora da Fiocruz, Margareth Dalcomo, acredita que há chances do vírusser o estopim do AVC. (Reprodução / TV Gazeta)

Considerando que os estudos são muito recentes, o professor de Fisiologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)  e coordenador de pesquisas do Hucam, José Geraldo Mill, explica que o AVC acontece em razão da obstrução provocada pelo  processo inflamatório do vaso. Assim, se a Covid-19 é uma doença inflamatória, ela pode sim predispor a ocorrência do acidente vascular cerebral.

 "Não temos evidência documentada de que isso ocorra, mas sabemos que a Covid-19 vai além dos sintomas gripais. Por exemplo, há quem desenvolve dores abdominais devido ao processo inflamatório do intestino.  Há estudos que mostram que a Covid-19 provoca inflamação da artéria, chamada de arterite, quando chega ao  estágio avançado. A arterite pode predispor a infarto, AVC, derrame e diversas lesões por entupimento de vasos", argumentou José Geraldo Mill.

AVC DA PRIMEIRA-DAMA

O AVC de grau leve da primeira-dama aconteceu no dia 15  de maio. Maria Virgínia foi levada para um hospital particular, onde ficou internada até ao dia seguinte, quando recebeu alta. Em casa, a primeira-dama começou a ter sintomas comuns da Covid-19, assim como o governador Renato Casagrande, o qual também fez teste que confirmou a doença, de acordo com nota oficial enviada pela assessoria de imprensa do governador. 

Assessoria também informou que não é possível afirmar onde a primeira-dama e o governador foram contaminados  nem o dia exato e se a doença teria causado o AVC.  

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