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Covid-19: psicólogos oferecem atendimento a profissionais que atuam em hospitais

Covid-19: psicólogos oferecem atendimento a profissionais que atuam em hospitais

Grupo criou plataforma online e serviço é gratuito. Objetivo é cuidar da saúde mental de quem atua na linha de frente no combate ao coronavírus

Publicado em 4 de maio de 2020 às 18:19

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Governo chama profissionais de saúde para luta contra coronavírus
Profissionais de saúde estão na linha de frente da luta contra o coronavírus. (Fabio Rodrigues Pozzebom)

Com o intuito de cuidar daqueles que cuidam de milhares de vidas, estando na linha de frente no combate ao novo coronavírus, cinco psicólogos resolveram criar uma plataforma que conecta profissionais da saúde e trabalhadores que atuam diretamente em  hospitais à profissionais voluntários dispostos a atendê-los. Os atendimentos são pontuais, funcionando de forma online e gratuita. Só no Espírito Santo, há atualmente 1.083 profissionais da saúde com Covid-19.

Os dados que mostram a quantidade de profissionais contaminados estão no painel Covid-19, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), e foram atualizados nesta quinta-feira (28).

De acordo com a Rede de Apoio Psicológico, quem atua na saúde está, não só mais exposto ao coronavírus, como também  é grande responsável por salvar milhares de vidas, de forma direta ou indireta: "E se eles estão cuidando de milhares de pessoas, alguém precisa cuidar deles também!", afirma o grupo, formado pelos psicólogos Camila Munhoz, Evelyse Stefoni de Freitas Clausse, Luciana Lafraia, Jonas Boni e Marina Bragante, de São Paulo.

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A ideia surgiu bem no começo da pandemia no Brasil e ainda não havia decreto de quarentena. Mas víamos o número de casos subir e já surgia pacientes que trabalham no sistema de saúde com essa angústia, pensando: 'Como vou escolher quem vai e quem fica? Como será minha relação com meus filhos em casa? Como ficam as férias programadas?'. Foi quando começamos a pensar juntos o que poderíamos fazer como classe. Sabíamos que era possível fazer o nosso trabalho em home office, mas ainda não havia nenhum movimento para isso. Foi quando pensamos em conectar psicólogos disponíveis com profissionais que precisavam ser atendidos, como um Tinder.  Nossa prioridade era fazer com que a nossa profissão conseguisse contribuir para o sistema de saúde ficar de pé. Esse trabalho na linha de frente é feito por humanos, que possuem vidas pessoais que vão além do coronavírus

Marina Bragante
Psicóloga e uma da idealizadoras do projeto
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COMO FUNCIONA: O MATCH DA PSICOLOGIA

Para receber atendimento, o profissional da saúde ou que trabalha em hospitais - seja da recepção, faxina, como motorista, entre outros, precisa fazer um cadastro na plataforma. Enquanto isso, os psicólogos que querem oferecer atendimento de forma voluntária também fazem cadastro na rede de apoio.  E é nesse momento que entram os profissionais responsáveis pelo programa. Eles fazem a ponte entre quem pediu apoio e o voluntário, como um "match" - simplifica o grupo.

Após o cadastro, a equipe envia aos profissionais inscritos, que estão na linha de frente da saúde, uma mensagem via WhatsApp com o número do telefone celular do voluntário e as orientações para que agende uma consulta. Enquanto isso, também é enviado uma mensagem para o psicólogo, que fica aguardando o contato.

"Não providenciamos um acompanhamento psicológico contínuo, mas sim um apoio pontual durante o período de isolamento social, gratuito e online - acontecendo através da ferramenta de videoconferência da escolha do(a) psicólogo (a) e do profissional de saúde. As diretrizes de atendimento terão como base as diretrizes éticas do  Conselho Federal de Psicologia (CFP)", explicou a  Rede de Apoio Psicológico .

Data: 12/03/2020 - Médico com placa do coronavírus alerta para a doença. Freepik
Médicos que atuam no combate coronavírus podem ficar desgastados psicologicamente. (Freepik)

SOLIDARIEDADE: MAIS DE 4 MIL VOLUNTÁRIOS

Em meio a crise na saúde, a solidariedade. A plataforma divulgou que no momento não está cadastrando novos psicólogos porque já são mais de 4 mil voluntários que se inscreveram na rede. "Estamos muito felizes por saber que tem tanta gente querendo cuidar de quem cuida. Mas por enquanto, estes voluntários estão dando conta da demanda que temos e agora precisamos focar em chegar a mais profissionais da saúde", afirmou o grupo.

Antes de fazer qualquer conexão entre os envolvidos, o grupo afirma que faz a checagem no Conselho Regional de Psicologia (CRP) de cada psicólogo(a) e inclui na lista de voluntários apenas aqueles que têm CRP ativo. Além disso, todo psicólogo(a) inscrito aceita o Termo de Voluntariado e é orientado pelas Diretrizes do Projeto.

FAXINEIROS, COZINHEIROS E RECEPCIONISTAS DE HOSPITAIS SÃO BENEFICIADOS

O atendimento é oferecido para todos os "profissionais da saúde, de qualquer parte do Brasil, que estão trabalhando no combate à Covid-19 e precisam de escuta qualificada para lidar com esse cenário atípico e grave no sistema de saúde", informou a rede de apoio. Além de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, o trabalho também é destinado para todo profissional que está na linha de frente, atuando em hospitais, postos de saúde e pronto atendimentos, como motoristas, faxineiros, recepcionistas e cozinheiros, por exemplo. 

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Após criarmos a plataforma, compartilhamos entre amigos de WhatsApp acreditando que cerca de 80 psicólogos teriam interesse em ser voluntários. Mas no dia seguinte já eram 2 mil interessados e hoje já são mais de 4 mil. Mas, infelizmente, ainda não tivemos o número de profissionais da saúde compatível para receber atendimento. Então, agora, nossa meta é fazer a plataforma chegar nesses profissionais, que vão muito além de médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Entendemos que nosso serviço deve ser oferecido para todo mundo que faz o sistema de saúde ficar de pé: faxineiros, recepcionista, cozinheiros, motoristas... Queremos garantir que o sistema inteiro fique de pé porque se cair uma peça, caem todas 

Marina Bragante
Psicóloga e uma da idealizadoras do projeto
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Marina completou que incluir no projeto outros profissionais que atuam na saúde, mesmo que de forma indireta, também é uma forma de democratizar a psicologia. Ela afirma que muitos médicos já contam com apoio psicológico porque possuem condições financeiras maiores. Mas nem todo profissional possui o mesmo recurso. 

"Nossa proposta é dar apoio psicológico para esse momento especifico e não um acompanhamento clínico. Reconhecemos que há um sofrimento atual, que todo mundo está passando por um momento significativo, e é preciso aprender a lidar com isso", completou.

O programa afirma que irá manter ativo o trabalho de gestão e encaminhamentos da rede enquanto durar o período de distanciamento social devido à Covid-19. Após este período, o grupo irá definir como poderão ser feitos atendimentos pós quarentena. É possível conhecer a plataforma clicando aqui

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