Na reta final das eleições, um espetáculo que tem tudo a ver com o tema estreia neste sábado (6) em Vitória: Resto, peça assinada por Fernando Marques e encenada pelo Grupo Z de Teatro. A montagem trata do atual cenário político do país, com foco no processo de judicialização que influencia em vários âmbitos da vida do cidadão.
É um assunto que parece urgente. Para nós, se tornou impossível observarmos tudo o que vem acontecendo e ficarmos indiferentes, comenta o dramaturgo.
De acordo com Fernando, a judicialização é um fenômeno que faz com que questões políticas e sociais sejam solucionadas pelo Poder Judiciário ao invés de resolvidas pelo poder competente, seja ele Executivo ou Legislativo: "Na medicina, por exemplo, quando um remédio não é encontrado na farmácia pública do SUS, gera às vezes um processo judicial para que o paciente tenha direito a ele".
"Estudiosos apontam isso acontecendo no mundo todo. No nosso caso, tratamos de como está funcionando no âmbito político", explica Fernando. O espetáculo, com elenco de quatro artistas, não apresenta uma única história linear: "São quadros que se relacionam. Os atores fazem vários personagens diferentes que acabam dialogando entre si, mas não da forma como estamos acostumados".
Dirigido por Fernando e Carla van den Bergen, o espetáculo tem múltiplas referências. "'Antígona', de Sófocles, é uma delas. Além disso, estudamos 'O Juiz de Paz na Roça', de Martins Pena", acrescenta o dramaturgo. As linguagens também se entrelaçam, o que impede a definição de um gênero para a peça: "Eu costumo chamar de teatro adulto. Tem influência da comédia de costumes, tipicamente brasileira, e da tragédia grega, embora com outra abordagem".
Nas fotos, é possível perceber os atores com máscaras pretas. O autor contou que se trata da influência dos personagens de juízes construídos a partir da máscara do Doutor, da italiana Commedia Dell'Arte: "Esse gênero é muito importante até hoje, porque tem figuras memoráveis como o arlecchino e colombina. O Doutor, por exemplo, representa um magistrado que posa como se soubesse de tudo. Nossa peça dialoga com essas referências".
O nome "Resto" partiu de uma sensação do grupo. "Diante das notícias de pessoas pedindo a volta da ditadura, gente relativizando a tortura e minimizando a democracia, ficamos com um sentimento de que estamos sobrando, que somos o 'resto' de algo que deu errado", pondera Fernando.
O diretor ressalta que a apresentação não é isenta de posicionamento político. "Não temos nenhuma pretensão de imparcialidade. A gente nem acredita que ela seja possível. Todo mundo tem uma posição. O que temos, com clareza, é que nenhum ponto deve ser imposto a ninguém", explica. Sobre o que esperar do espetáculo, ele responde: "O público vai ter um momento de encontro e reflexão sobre o que estamos vivendo no país, mas sem pessimismo. Temos humor e ironia, sem pesar nesse sentido".
TEMPORADA
Além da estreia neste sábado e da apresentação no domingo, Resto fará uma temporada durante o mês, sempre de sexta a domingo. Para brindar o momento político, a entrada será gratuita nos dias de primeiro e segundo turno (dia 7 e dia 28) e no feriado do dia 12 de outubro.
SERVIÇO
Resto
Quando: De sexta a domingo durante o mês de outubro, com estreia no dia 6 (sábado).
Dias 6 e 7 às 17h; nos demais dias, sextas às 19h, sábados e domingos às 17h.
Onde: Casa da Má Companhia - Rua Professor Baltazar, 150, Centro de Vitória (próx. à Catedral Metropolitana).
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Nos dias 7, 12 e 28 a entrada é gratuita.
Classificação: 10 anos.
Informações: (27) 99903-2585.
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