Encontro que já se tornou tradição no Centro de Vitória, A Festa das Ciatas, organizado pelo grupo Coletivo Afoxé, resiste, inclusive à pandemia do novo coronavírus. Em sua segunda edição, o encontro será realizado em formato on-line, com início marcado para esta quinta-feira (13), às 17h, com lives transmitidas pelo Instagram.
Na edição passada, cerca de mil pessoas compareceram ao evento na Praça Costa Pereira, que misturou culinária e artesanato ao tradicional universo do samba.
Marilene Pereira, uma das responsáveis pela festa, afirmou que organizar um encontro totalmente on-line foi um grande desafio. "Vamos ter que enfrentar a concorrência das lives. Se você não é um artista famoso, dificilmente consegue chamar a atenção do internauta para a sua causa", lamenta, dizendo que o samba tem dificuldades em se encaixar nesse universo virtual.
"O samba precisa de um espaço, de aconchego. De qualquer forma, o encontro manteve o seu ideal, que formato nenhum consegue modificar: destacar o trabalho e o valor da mulher negra, além de continuar fazendo um resgate das tradições das paneladas, que sustentavam os antigos carnavais desde a década de 1930", explica.
Mas, você deve estar se perguntando: o que seria uma ciata? O nome é uma homenagem à Hilária Batista de Almeida, baiana radicada no Rio de Janeiro que, na década de 1930, tornou-se símbolo da resistência negra pós-abolição e uma das principais incentivadoras do samba, especialmente porque abria sua casa para reuniões de sambistas pioneiros, quando a prática ainda era proibida no Brasil.
"Tia Ciata ficou conhecida por ser uma das precursoras da ala das baianas em uma escola da samba. Hilária, na verdade, lutou pela valorização da mulher negra, promovendo uma espécie de autoconhecimento e reencontro de suas raízes", reflete Marilene.
"Nossa festa também serve para refletir sobre a invisibilidade do negro em espaços da sociedade. Essa reflexão leva, inevitavelmente, ao debate sobre a consciência negra, raça e classe, temas muito atuais", debate, dizendo que, indiretamente, a Festa das Ciatas, e o movimento do orgulho negro, por consequência, consegue contribuir na luta de combate ao racismo.
A primeira live, marcada para esta quinta (13), às 17h, traz como convidada Helena Theodoro, historiadora e especialista em samba. No Carnaval de 2021, Helena será uma das responsáveis pelo enredo da escola carioca Acadêmicos do Salgueiro, "Resistência".
"Entre outros assuntos, ela vai abordar a presença da mulher negra no samba, e também todo um período de transformação e organização do carnaval, desde a década de 1930", ressalta, Marilene Pereira, também destacando a live "Culinária Afro-brasileira: Feijoada", que contará com a participação de Winy Fabiano, idealizadora do Ubuntu Quitutes e presidente do Coletivo Muca.
"Será uma oportunidade e um incentivo para a mulher negra começar a empreender. Hoje, temos negras de vanguarda, em todos os setores da economia. As mulheres negras estão na base do problema da nossa pirâmide social. Queremos reivindicar direitos e respeitos. Encontros como esse é mais uma oportunidade para debatermos esses pontos", complementa.
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