O mestre Mário Quintana já dizia que quem faz um poema abre uma janela, e foi justamente pela janela que a poesia entrou na vida de Alice Monteiro, jornalista que lança Ultramar e Outros Mares em Vitória neste sábado (24). Durante uma viagem de trem para Montes Claros, em Minas Gerais, ela avistou um menino vendendo laranjas.
Ele tinha mais ou menos a minha idade na época (8 anos), estava sujo e me ofereceu uma laranja, lembro até hoje. Eu pedi dinheiro à minha mãe, e ele foi seguindo o trem pela plataforma, mas não deu tempo, descreve a poetisa, como um momento de dor, devido a situação social em que se encontrava aquela criança.
No mesmo dia ela escreveu a sua primeira poesia, chamada pobreza, e não parou mais. A vida inteira eu escrevo, não viveria sem a poesia, é uma maneira de extravasar meus sentimentos, afirma. E o olhar sensível pelo próximo, que despertou o gosto pela escrita, segue presente em seus versos.
Eu me inspiro no outro, porque ao falar do meu sentimento eu perpasso no outro, avalia e acrescenta: eu escrevo sobre o amor, em relação ao par, porque estou sempre apaixonada, mas também falo do amor de outras formas, sobre a minha mãe, o meu pai, sobre as árvores, também pela vida por tudo.
LANÇAMENTO
Alice é do Rio de Janeiro, mas decidiu lançar o seu segundo livro Ultramar e outros mares em Vitória. A noite de autógrafos neste sábado (24) começa às 18h, na livraria Logos do Shopping Jardins. Ela garante que a escolha da cidade não tem relação com algum amor capixaba. Estou lançando aqui porque tenho vários parentes e amigos no Estado, eles me deram força e estou muito feliz por isso, declara.
Porém, a escolha do título é, de certa forma, uma homenagem a alguém especial. Ultramar é uma cor azul que eu gosto muito e a cor dos olhos de uma pessoa amada. Já outros mares são os outros significados, esse título surgiu na minha cabeça e me tomou, explica.
Tudo está conectado neste exemplar, desde a foto da capa, ao prefácio escrito por Christovam de Chevalier e a dedicatória ao pequeno vendedor de laranja. O farol e o banco vazio tem tudo a ver com o livro. Quem fica no farol, normalmente, são pessoas solitárias, pois o livro também fala de solidão. A procura de um amor que partiu e me partiu, relata.
Dentre os 80 poemas, existe sim um preferido, e ainda um que virou música. Coração Partido é o mais longo e o que mais representa a autora, segundo a própria. Fala da minha alma, das minhas entranhas. É difícil explicar, sabe, mas quando eu leio, parece que a dor que eu sentia ao escrever eu continuo sentindo, pontua.
O segundo trecho de Bicho Acuado se transformou em reggae na voz da pianista e cantora lírica Eliane Salek. Eu adoro cantar, mas não sou profissional e sinto que meus poemas percorrem um caminho lírico. Ela é minha amiga e adorou o poema, foi uma surpresa pra mim e vai fazer parte do seu CD, comemora.
Em 2009 ela publicou o primeiro livro Estelar. De lá para cá, ela conta que viveu um amadurecimento poético. Fiquei mais crítica, então o segundo (livro) teve um processo um pouco mais demorado, mas não que eu levasse nove anos para escrever. As poesias deste foram escritas a partir de 2016, revela.
Para ela, esse novo momento é interceptado por paisagens de êxtase e abandono, de plenitude e de falta. Tudo isso são antíteses e os portos do amor. Tudo isso fala do amor, contempla Alice, a poeta apaixonada.
SERVIÇO
Lançamento do livro Ultramar e Outros Mares, de Alice Monteiro
Quando: sábado (24), às 18h
Onde: Livraria Logos do Shopping Jardins, Rua Carlos Eduardo Monteiro de Lemos, 262, Jardim da Penha, Vitória
Aberto ao público.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta