Já fazia frio em Paris, afinal, o inverno não demoraria a chegar. Aproveitando o clima, Charles-Émile Reynaud juntou um pequeno grupo de amigos em uma sala no Museu Grévin para, em 28 de outubro de 1892, exibir Pauvre Pierrot, naquela que é considerada a primeira projeção pública de imagens animadas.
O filme, que contava com cerca de 500 imagens pintadas a mão trazendo as desventuras cotidianas de um pierrot, impulsiona o Dia Internacional da Animação (DIA) que, desde 2002, é celebrada no mesmo 28 de outubro. Abaixo, veja um vídeo com imagens restauradas, em 1996, de Pauvre Pierrot.
No Espírito Santo estão marcadas exibições de curtas de animação nacionais e internacionais (e um espaço dedicado apenas para as produções infantis) nesta segunda (28), às 19h30, no Cine Jardins, em Vitória, e às 19h, no Auditório do Ifes, em Ibatiba. Na quinta-feira (31), a programação se repete na cidade do interior. As sessões são gratuitas.
A programação é praticamente a mesma em 150 cidades de todo o país. Por aqui, também estão no cardápio animações capixabas que concorreram ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro: Sobre a Gente, do Projeto Animação/Instituto Marlin Azul, e Rock'n'Sprok, da série Irmão do Jorel, criada e dirigida por Juliano Enrico. Jorel, inclusive, também está disputando o Emmy Kids Internacional 2019.
Ainda na programação do DIA, será exibido um trecho do longa-metragem Boi Aruá (1984), dirigido por Chico Liberato, artista plástico e cineasta de Salvador, um dos pioneiros do cinema de animação nacional. O filme é baseado no livro O Boi Aruá, de Luís Jardim, e apresenta uma estética inspirada na xilogravura de literatura de cordel ao contar a história de um fazendeiro cujo poder é desafiado sete vezes pela extraordinária aparição de um boi misterioso, o Aruá.
A produção é inteiramente artesanal, feita a partir de 25 mil desenhos sobre papel. O longa, inclusive, foi premiado pela UNESCO como Referência de Valores Culturais para Infância e Juventude.
Entre os títulos exibidos na programação nacional, destaca-se o belo Sangro, de Tiago Minamisawa, Bruno H Castro e Guto BR, um diário íntimo sobre as dores de um portador do vírus HIV, e Almofada de Penas, de Joseph Specker Nys (que usa a técnica de Stop Motion), que versa sobre uma mulher que começa a desenvolver alucinações monstruosas.
Por sua vez, na lista das atrações internacionais, vale muito a pena dar uma conferida no britânico The Boy who Wanted to be a Lion, de Alois Di Leo, e Padre, do argentino Santiago Bou Grasso, que usa Stop Motion para abordar os fantasmas da ditadura militar portenha.
Em bate-papo com o Divirta-se, Beatriz Lindenberg, realizadora do evento em Vitória, falou sobre a importância da animação como livre expressão e pluralidade de ideias. Além disso, comentou a criativa vinheta de abertura do Dia Internacional da Animação 2019, que faz uma metáfora ao período de censura por qual passa o audiovisual brasileiro junto ao Governo Federal. No desenho, uma estátua, conhecida por fazer um símbolo de arma com as mãos, é derrubada por criaturas fantásticas em busca de liberdade de expressão. É celebrar e resistir, afirma Beatriz.
A animação brasileira completa 102 anos, comemorando seu reconhecimento mundial, alcançando patamares inéditos de quantidade, qualidade e popularidade. A produção virou referência na última década, com indicações ao Oscar e muitas premiações pelo mundo, em especial no Festival de Annecy (França), o mais importante da categoria. Os brasileiros conseguiram desenvolver uma linguagem própria, que podemos ver nos curtas, longas e séries de TV. A originalidade nasce de uma trajetória de animadores independentes e autodidatas e é essa característica que chama a atenção do mundo. A criação está no terreno da liberdade de expressão. As leis de incentivo, os editais de fomento e em especial o Fundo Setorial do Audiovisual foram e são decisivos para o crescimento do mercado da animação, para cinema e TV. A Ancine vive uma crise institucional e está praticamente paralisada. Há uma completa distorção da função de uma agência reguladora, que tem como atribuições o fomento, a regulação e a fiscalização do mercado do cinema e do audiovisual no Brasil. A imposição de filtros ideológicos para a produção audiovisual é mais um ataque de uma série de medidas do governo contra a cultura brasileira. O momento político é dramático para o audiovisual e para o país.
O DIA , promovido pela Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA), é uma grande celebração desta trajetória de desenvolvimento e expansão da animação brasileira. Em sua 16ª edição, o evento acontece simultaneamente em 150 cidades brasileiras, estendendo-se também para outros países. Em cada lugar, o evento é recebido por parceiros locais, que formam uma rede colaborativa de difusão nacional, criando centenas de espaços alternativos de exibição da animação brasileira, com mostras infantis e adultas. É uma festa da animação, popularizando a diversidade e inventividade, promovendo o acesso de diferentes públicos, inclusive de pequenas cidades sem salas de cinema.
A peça é explícita ao valorizar a força do coletivo pela defesa dos direitos, remetendo ao atual Ninguém solta a mão de ninguém, ou ainda ao clássico Mais forte são os poderes do povo, fase antológica de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", do genial Gláuber Rocha.
O DIA traz 4 programações diferentes, com aproximadamente 50 minutos cada. Os 16 curtas metragens que serão exibidos nas programações Nacional e Internacional são inéditos em Vitória, em sua maioria. A Mostra Infantil será promovida pelo Instituto Marlin Azul, em parceria com o Sesc Glória, em novembro, com a reprise das mostras Nacional e Internacional.
A marca da animação brasileira é a inventividade e a originalidade nos múltiplos jeitos de fazer filmes, seja quanto ao tema, técnica, estética, linguagem e também nas formas de difundir e popularizar as produções. Por isso, vamos abrir a sessão do DIA incluindo duas animações capixabas bem contrastantes e que concorreram ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2019. "Sobre a Gente" é um curta- metragem extremamente artesanal, feito pelo Projeto Animação com alunos da EMEF Éber Louzada Zippinotti, de Jardim da Penha, que traz a experimentação de técnicas como animação com areia, luz, carvão, e as tradicionais como desenho em papel, pintura, massinha, stop motion. E Rock'n'Sprok, um episódio da série "O Irmão do Jorel", uma produção hiper profissional criada e dirigida por Juliano Enrico e recentemente indicada para o Emmy Kids International, principal premiação internacional para programas televisivos direcionados ao público infanto-juvenil, anunciada em Cannes, na França, como parte da MIPTV Media Market.
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