“Vivemos em um país que não gosta de ser fiscalizado.” A frase, em meio a um desabafo emocionado, é do guarda municipal Fábio Defendente, primo do professor de História morto ao ser atingido por uma bobina de aço que se desprendeu de uma carreta.
Fruto de irresponsabilidade, a tragédia que levou Mauro Celso Azevedo Guimarães na última quarta-feira (9), em Vila Velha, lança luz sobre um velho problema do transporte de cargas brasileiro, em que as empresas falham e os órgãos de controle claudicam.
Há regras claras para a amarração de carretéis, algo imprescindível para uma zona portuária como a de São Torquato, local do acidente, onde o trânsito de caminhões mistura-se ao de veículos de passeio. Mas a perícia da Polícia Civil apontou que, das oito bobinas que estavam na carreta, cinco estavam soltas e três estavam com amarrações ilegais, feitas até com fitas plásticas.
A própria Polícia Civil classificou o acidente como absurdo. Agora, quem trafega pela região agora dá carona ao medo: quantas carretas não passam por ali diariamente, irregulares e incólumes, sem qualquer fiscalização?
Em um mundo ideal, regras tão essenciais à segurança no trânsito seriam cumpridas por simples bom senso. Não seria preciso plantar fiscais em cada esquina de cada bairro para flagrar delitos, o que é não só oneroso, mas também impossível.
Estamos longe do mundo ideal, no entanto. O Brasil é um país com mais de 60 mil mortes no trânsito por ano, a maioria causada por imprudência, negligência e imperícia; em que o governo federal retrocede em medidas preventivas e coercivas; em que radares são vistos como “indústrias da multa”.
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É preciso cobrar investigação e, em seguida, ação célere do Judiciário. Mas antes é preciso cobrar seriedade de empresários que assumem a conduta criminosa de transportar cargas de forma irregular, exigir prudência de motoristas e reivindicar severidade dos órgãos de fiscalização, porque não há justiça que restaure as consequências de uma tragédia.
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