Em um mesmo dia, o Centro de Vitória foi cenário de duas notícias que, observadas na superfície, não têm relação nenhuma. Na quarta-feira (23), o proprietário de um bar nas proximidades da Praça Oito não conteve o choro ao constatar os prejuízos de um furto ao seu estabelecimento, naquela madrugada. Cenas que ecoaram o desamparo de quem trabalha para manter um negócio viável, dia após dia.
Naquela mesma data, não muito longe dali, como relatado na coluna de Leonel Ximenes, começava a mudança da cúpula da Cesan para o antigo antigo Fórum Muniz Freire, na Cidade Alta. Um movimento ainda inicial, mas que pretende levar 700 funcionários para o edifício e para o seu vizinho, o antigo Fórum Criminal. Prédios que estavam ociosos desde a mudança para a Avenida Fernanda Ferrari, em Vitória, em janeiro passado. Do total, são 580 funcionários que trabalham fora do Centro e passarão a fazer parte do seu habitat em breve.
Mas as duas notícias se esbarram quando se almejam dias melhores para a região. É bem verdade que a violência sofrida pelo dono do bar ocorreu na madrugada, quando as ruas e avenidas estão mesmo vazias, mas esse movimento de reocupação de prédios ociosos estimulado por governo e prefeitura, em diferentes frentes, é o que pode viabilizar mais segurança para a região. Mais gente circulando, ocupando os espaços públicos, consumindo em bares, lanchonetes e lojas... são as pessoas que revitalizam qualquer lugar.
O fluxo de escritórios de empresas e da própria burocracia estatal para as regiões da Enseada do Suá e da Praia do Canto, primordialmente, promoveu o esvaziamento do Centro desde o fim do século passado. É provável que uma "cidade" tão movimentada quanto a dos anos 80 nunca mais seja vista, pela própria dinâmica da Região Metropolitana na atualidade, mas é perfeitamente possível organizar um retorno sustentável, que fortaleça a região.
A própria Câmara de Vitória avança em seu processo de mudança para o Centro. Em 2023, a Ordem dos Advogados do Brasil – seccional Espírito Santo (OAB-ES) desistiu de deixar a região. A ocupação de prédios públicos desocupados, sistematizada pelo governo estadual desde 2019, é um caminho para fazer as pessoas voltarem à região, assim como o estimulo ao retrofit, cuja lei municipal foi sancionada em 2022.
O Centro precisa consolidar uma nova vocação, como um novo ecossistema socioeconômico que garanta a sustentabilidade dos negócios na região. Mas isso precisa ser mais estimulado, em termos de infraestrutura, segurança e incentivos. Ficar somente sonhando com o passado não tira ninguém do lugar.
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