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O drama de quem tem diploma no ES, mas não consegue emprego

O drama de quem tem diploma no ES, mas não consegue emprego

Estado tem mais de 22 mil pessoas com formação e experiência, mas sem atividade

Publicado em 19 de agosto de 2018 às 00:00

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Aos 34 anos, a assistente social Lílian de Andrade Pinto enfrenta, desde que o contrato de seu último emprego acabou, em dezembro de 2015, uma situação inédita em sua vida. Mesmo com um diploma de ensino superior e oito anos de experiência na área, ela não consegue uma nova oportunidade de trabalhar com carteira assinada.

“Nunca passei por isso. O máximo que já tinha ficado parada era 15, 20 dias, de um emprego para o outro. Mas agora não estou conseguindo nada. Meu esposo está mantendo a casa. Enquanto isso, procurei algo para me ocupar. Há um ano e meio encontrei na confeitaria o que gostava de fazer. Me dá uma renda, mas tem mês que não vendo nada”, lamenta.

Lilian de Andrade Pinto é formada em Serviço Social. Desde de 2016 nâo consegue emprego e faz doces em casa para ajudar na renda familiar. ( Carlos Alberto Silva)

Mãe de duas crianças, Lílian conta que já fez diversas seleções, mas nunca é chamada após as entrevistas. “Tenho qualificação e experiência, o que o mercado pede. Por isso, não entendo porque não consigo voltar. Mas tem pouca vaga abrindo também. Quando abre o processo seletivo é cadastro de reserva ou uma vaga, na maioria”, conta.

Lílian é uma das 22 mil pessoas que têm diploma de ensino superior no Espírito Santo, mas não consegue um emprego formal. A demora na retomada da economia tem prejudicado esse público, que há quatro anos, em 2014, era de 11 mil pessoas. Os números são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

Espera

Formada em Administração e finalizando uma pós-graduação em Gestão e Desenvolvimento de Pessoas, Larissa de Souza, 29, também passa pela mesma situação. Ela tem oito anos de experiência na área de departamento de pessoal e recursos humanos, mas há dois anos procura um dos escassos empregos no segmento.

“Estou desempregada há dois anos, desde que tive minha filha. Hoje meu marido trabalha e sustenta a casa e eu sou sacoleira, compro e revendo roupas e calçados. Nesse meio tempo, fiz entrevista em duas empresas que não me contrataram. Acredito que seja porque estou acima do peso. Tem muito preconceito.”

Apesar das dificuldades, Larissa diz que não vai desistir. “Acredito no meu potencial, tenho experiência e não é pouca”, diz.

Larissa de Souza, de 29 anos possui diploma mas não tem emprego. (Marcelo Prest)

Quem não tem experiência também tem visto poucas oportunidades. A engenheira de petróleo Eduarda Lessa, de 26 anos, diz que se formou em dezembro de 2016 e fez um intercâmbio entre 2017 e 2018. Mas, desde que voltou, em fevereiro, já mandou currículo para diversas vagas. Até agora, foram poucas entrevistas, conta ela.

“A área está ruim de vagas, e tem muita gente com experiência procurando realocação. Quem acabou de se formar compete com quem tem 10 anos de mercado, o que torna o processo mais difícil. Eu não penso em procurar vaga em outras áreas. Como acabei de me formar, decidi focar em procurar trainee, e também tenho procurado vagas no exterior”, revela.

Enquanto isso, Eduarda também decidiu se qualificar com um MBA. “Uma hora vai aparecer um emprego”, acredita.

Recuperação ainda deve demorar

Ana Cláudia investiu em uma esmalteria e depois virou consultora de imagem. (Acervo Pessoal)

A greve dos caminhoneiros e as eleições frustraram a expectativa de que a economia pudesse, finalmente, reagir de forma mais rápida. O cenário ruim não traz confiança para o empresário investir. E sem investimento, o mercado de trabalho deve demorar mais a se recuperar, explica o professor de Economia da Unesc, Herivelto dos Santos Almeida.

“Agora as expectativas de investimento dos empresários estão piores que no começo do ano, e estamos prestes a ter uma eleição imprevisível. Sem investimento por parte das empresas, não há expansão nas contratações, não há como gerar emprego”, destaca ele, ao observar que, se o país fizer reformas, a economia só deve voltar ao nível pré-crise, de 2014, em 2022.

Se no primeiro momento, os cargos menos qualificados foram os cortados, com a persistência da recessão, os empregos qualificados foram começando a ser eliminados por causa do custo, explica Almeida. “Tudo se resume ao custo das empresas. E quem tem mais qualificação custa mais”, afirma.

O coach e coordenador do Master em Liderança e Gestão de Pessoas da FGV, João Baptista Brandão, lembra ainda que muitas empresas têm preenchido vagas de maior qualificação com profissionais que já estão em seus quadros.

“Em geral, as empresas trazem profissionais de fora quando vão crescer e precisam de mais gente rapidamente”, pondera.

Empreender vira opção para ter renda

Investir no próprio negócio é a aposta de grande parte daqueles que, mesmo com um diploma na mão, não conseguem oportunidade de trabalho na área de formação.

Esse foi o caminho que a advogada Ana Claudia Mota encontrou após terminar o curso de Direito em 2011. Quando ela se formou, foi a vários escritórios em busca de emprego, mas não conseguiu ser chamada. “Depois, pensei em montar meu próprio escritório, mas também não deu certo. Tentei de várias maneiras, até que desisti”, conta.

Após seis anos desempregada, Ana Cláudia resolveu dar um novo rumo para a vida. “No começo de 2017, surgiu a oportunidade de comprar uma esmalteria e, então, decidi partir para isso. Vi no comércio a oportunidade de me tornar mais dona de mim, e foi o que aconteceu.”

Animada com o novo negócio, ela decidiu investir em um sonho: a consultoria de imagem e estilo. “Hoje, faço os dois e me sinto realizada”, diz.

Já a engenheira metalúrgica Thays Fornazier não deixou o tempo passar. Ela se formou em 2016 e participou de processos seletivos de trainees, mas também não conseguiu nada na área. No mesmo ano, desistiu da engenharia.

“O mercado é muito fechado, então, já fui me encaminhando para outra coisa que gosto, que é a área da beleza”, conta ela, que hoje faz cabelo e maquiagem em um estúdio e também atende clientes em domicílio.

Competências

Quem deseja empreender deve analisar o mercado. “Os dados que chegam até nós pela internet têm que ser transformados em inteligência. É a partir deles que são tomadas as decisões de negócio. São muitas informações sobre o contexto de um novo empreendimento e, se elas forem analisadas corretamente, a chance de acerto são muito maiores”, afirma o diretor-executivo da UVV Business School, Jefferson Cabral.

Já quem não quer sair da área, não deve deixar de se qualificar, pontua a coordenadora de recrutamento e seleção da Rhopen, Ludmila Ribeiro. “Se é difícil para quem está qualificado, imagina para quem não está. Hoje tem muitas opções de cursos gratuitos, até na internet”, afirma.

Muita gente desenvolve as habilidades técnicas, mas não melhora competências emocionais, diz a psicóloga e diretora da Psico Store, Martha Zouain. E isso pode fazer a diferença na hora de uma seleção.

“Quando a gente abre uma vaga, às vezes, tem 30 profissionais e a gente descarta todo mundo pois falta qualificação comportamental. A gente observa características de personalidade como dinamismo, proatividade, visão sistêmica, facilidade de comunicação, leitura sobre mercado. Se tem dificuldade, a pessoa deve buscar ajuda para desenvolver, seja através de coaching, de um livro ou de um curso.”

O que fazer em cada situação

Se estiver desempregado

Mesmo sem conseguir emprego, o profissional não pode deixar de se qualificar. Não precisa ser só pós-graduação. Existem outros cursos, até mesmo on-line e gratuitos, que podem ajudar a reforçar o currículo.

Criar uma rotina de busca por oportunidades

Há muitos canais para procurar vagas, que vão desde redes sociais, como o LinkedIn e o Facebook, até os sites das empresas e de recrutadoras. Além disso, é importante tentar ampliar o campo de busca e se lançar a novas oportunidades.

Acionar a rede de relacionamentos

Se o profissional saiu da empresa anterior de maneira tranquila, pode pedir indicações. Também é bom falar para colegas que está em busca de oportunidades, seja na igreja ou na academia.

Desenvolver competências emocionais

Muita gente tem qualificação técnica, mas não investe em melhorar outras competências. Ser dinâmico, pró-ativo, ter visão sistêmica, ter bom relacionamento interpessoal, ser organizado. São vários pontos que devem ser melhorados seja através de coaching, de um livro ou de um curso.

Ter paciência para fazer um bom currículo

No currículo, o candidato precisa evidenciar que busca sempre o desenvolvimento profissional. Pode parecer chato, mas preencher corretamente o currículo nos sites, e se dedicar a fazer isso bem-feito, pode ajudar a mostrar que você é alguém que merece ser contratado.

Se quiser virar empreendedor

Área de afinidade

Na hora de escolher o negócio, o empreendedor deve apostar em uma área com a qual tenha afinidade.

Cultura de dados

É preciso levantar muitos dados sobre o negócio para ter uma visão ampla sobre ele e, assim, tomar decisões. Por isso, planejamento é tão importante. Mas manter o controle de tudo, de gastos, receitas e investimentos, também é fundamental.

Pensamento crítico

É importante que o empreendedor tenha a capacidade de lidar, de forma crítica, com todas as informações levantadas sobre o negócio. Conversar com pessoas da área também é interessante.

Resolução de problemas complexos

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Enxergar e resolver problemas são meios de ter oportunidade. O empreendedor deve sempre ficar de olho nesses problemas que vão surgir no novo negócio e traçar estratégias para resolvê-los.

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