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Falta de dados é entrave ao investimento em ativos ambientais

Falta de dados é entrave ao investimento em ativos ambientais

Os agentes de mercado ainda enfrentam falta de dados consistentes, métricas comparáveis e metodologias transparentes para tomar decisões de investimento e administrar riscos, alerta a OCDE

Publicado em 29 de setembro de 2020 às 08:21

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Meio Ambiente
No documento, o Brasil se destaca pelo elevado número de políticas e regulações relacionadas à sustentabilidade no setor bancário . (Freepik)

Os ativos voltados para as melhores práticas ambientais, sociais e de governança -conhecidas pela sigla em inglês ESG- já somam mais de US$ 30 trilhões (R$ 170 trilhões) em todo o mundo.

Mas os agentes de mercado ainda enfrentam falta de dados consistentes, métricas comparáveis e metodologias transparentes para tomar decisões de investimento e administrar riscos, alerta a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em relatório lançado nesta terça-feira (29).

No documento, o Brasil se destaca pelo elevado número de políticas e regulações relacionadas à sustentabilidade no setor bancário -o país possui dez dessas regras, segundo o levantamento da OCDE, atrás apenas da União Europeia, com 14, e a frente de outro países em desenvolvimento como Rússia (3), Índia (1), China (8) e África do Sul (3) e de vizinhos latino-americanos como Argentina (2), Colômbia (1), México (2) e Peru (1).

Por outro lado, o país também é destaque no relatório em capítulo que trata de corrupção em estatais, onde o clube dos países ricos chama atenção para investigações da Operação Lava Jato sobre suposto esquema de lavagem de dinheiro para posterior pagamento de propina envolvendo executivos do Banco do Brasil.

Segundo a OCDE, os mais de US$ 30 trilhões em ativos que incorporavam algum nível de preocupação ESG ao fim de 2019 representam um crescimento de mais de 30% em relação a 2016.

Mais de US$ 1 trilhão (R$ 5,62 trilhões) de ativos eram mantidos em carteira por fundos sustentáveis ao fim do ano passado, sendo 75% desse montante detido por investidores institucionais e 25% por pequenos investidores.

A maior parte dos investimentos sustentáveis está alocada em ações de empresas de capital aberto (51%) e ativos de renda fixa (36%), com a fatia restante dividida entre investimento imobiliário, em ações de empresas de capital fechado e outros tipos de ativos.

Nesse cenário, proliferam ratings (classificações de risco de crédito, na expressão em inglês), metodologias e métricas quanto à performance de ativos ESG, mas esses indicadores pecam pela falta de padronização que permita comparações, avaliam os especialistas da OCDE.

"A falta de comparabilidade torna difícil para os credores realizarem a devida diligência das atividades que estão financiando. Dificulta a comparação de métricas de sustentabilidade em projetos de infraestrutura. E torna difícil para aqueles que estão preparados para fazer uma troca entre retornos e resultados sociais fazê-lo com a confiança de que os resultados estão sendo realmente alcançados", observa a organização.

"Não podemos confiar nas finanças para entregar melhores resultados ambientais, sociais e de governança se os investidores não tiverem as ferramentas e informações para precificar os riscos relacionados e direcionar investimentos de acordo", diz a OCDE, destacando a importância de uma ação conjunta entre governos e agentes de mercado para mudar esse quadro.

A organização destaca, por exemplo, o avanço significativo nas regulações ESG no setor financeiro nos últimos dez anos, mas ressalta que apenas 16% dessas regulações são relacionas ao setor bancário.

Aqui, o Brasil é um caso de destaque. "O Banco Central do Brasil exige que os bancos comerciais incorporem fatores de risco ambientais e sociais em sua estrutura de governança e demonstrem como esses riscos são avaliados ao calcular suas necessidades de capital", cita a entidade internacional.

A entidade ressalta também a importância crescente das estatais como um instrumento para os governos estabelecerem um exemplo vindo de cima para o setor corporativo.

O Brasil contava com uma estatal entre as 500 maiores empresas do mundo em 2000, número que subiu para quatro em 2019. Em todo o mundo, as estatais entre as 500 maiores companhias eram 34 em 2000, passando a 132 no ano passado, com maior variação na Ásia (de 16 para 100), puxada pela China (de 8 para 90).

Mas, nesse caso, o Brasil serve de contraexemplo, já que salvaguardas anticorrupção são consideradas cruciais para o desenvolvimento sustentável e resiliência de longo prazo das estatais.

Por fim, o relatório se debruça sobre investimentos selecionados de fundos de pensão, com base em dados de 2017. Aqui, o país também tem muito a avançar, conforme a comparação internacional.

Segundo o levantamento da OCDE, fundos como Banesprev, Petros, Previ e Valia possuíam investimentos verdes variando entre 0% a 4% do total de investimentos, enquanto fundos de países desenvolvidos chegam em alguns casos aos dois dígitos em investimentos verdes como proporção de seu portfólio total.

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