Publicado em 1 de setembro de 2020 às 18:46
Em recuperação ante as perdas da abertura da semana, o Ibovespa refletiu nesta terça-feira a preferência do mercado por olhar para frente, animado pelos sinais preliminares de entrosamento entre governo e Congresso sobre a necessidade de ajuste fiscal, com iniciativas como a reforma administrativa, cujo encaminhamento foi prometido nesta terça-feira para esta quinta-feira. Ainda que a matéria, complexa, requeira longa tramitação, a indicação dada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que não está falando "sozinho", e de que o governo terá base no Congresso para levar adiante o que for preciso, contribuiu para recuperar os preços dos ativos brasileiros, com dólar em baixa e desinclinação da curva de juros na sessão. >
Assim, o principal índice da B3 recuperou a linha de 102 mil pontos no fechamento e na máxima, então aos 102.237,93 pontos, em alta de 2,89%, saindo de mínima na abertura aos 99.382,02 pontos, após ter encerrado o dia anterior no ponto inferior da sessão, em queda de 2,72%, abaixo dos 100 mil pontos (99.369,15)>
Nesta terça-feira, o Ibovespa fechou em alta de 2,82%, aos 102 167,65 pontos, a maior desde 8 de junho (3,18%), com giro financeiro nesta terça a R$ 26,7 bilhões. Nesta abertura de setembro, o Ibovespa acumula perda de 11,65% no ano, em leve alta de 0,02% no agregado da semana.>
"O dia positivo lá fora ajudou, e ontem a queda foi exagerada aqui, com a preocupação fiscal. O posicionamento do governo sobre a reforma administrativa agradou, o que botou as ações praticamente na mesma direção hoje, em alta generalizada, à exceção das que se ajustaram à queda do dólar", observa Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante.>
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Reforçando o viés da sessão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a Casa deverá avaliar com calma a medida provisória que o governo irá editar para prorrogar e alterar o valor do auxílio emergencial, como anunciado nesta terça pelo presidente Jair Bolsonaro. "Devemos trabalhar essa medida provisória com todo cuidado para que a gente possa atender de fato os mais vulneráveis sem dar uma sinalização de descontrole na administração da dívida pública brasileira", comentou.>
"O governo tem prometido uma série de iniciativas que, quando chega o dia, não se vê. Mas o mercado acreditou e está contando com pacificação entre governo e Congresso, algo que não é tão plausível assim", diz Rafael Leão, economista-chefe da Parallaxis Economics, acrescentando que a reforma administrativa é matéria "aguerrida" e que, apesar de positiva para a responsabilidade fiscal, não tem efeito imediato sobre o nível de atividade.>
Para 2020, Leão projeta retração de 6,8% para o PIB, com recuperação discreta em 2021, quando deve avançar 2,9%. "O momento é de carteira balanceada, sem se deixar levar muito pelas emoções", tendo em vista a situação ainda difícil, observa o economista.>
Amparado também pelo desempenho positivo em Nova York, o movimento do dia anterior foi espelhado nesta terça, com sinal trocado: agora, ganhos generalizados por empresas e setores, à exceção de poucas ações, como Marfrig (-3,37%) e IRB (-2,24%), na ponta negativa do Ibovespa na sessão, enquanto Hering (+9,02%) e Hapvida (+6,58%) ocuparam o lado contrário.>
Em movimento também oposto ao do dia anterior, a recuperação foi ampla em commodities (Petrobras ON +4,66% e Vale ON +3,49%), bancos (Santander +3,25%, Bradesco ON +3,10% e Itaú Unibanco PN +3,40%), siderurgia (Gerdau PN +4,77% e Usiminas +5,02%) e utilities (Eletrobras ON +2,79%).>
A retração de 9,7% do PIB no segundo trimestre, a pior da série histórica que retrocede a 1996, ficou em segundo plano ao longo da sessão, mesmo com a revisão, para baixo, da leitura do primeiro trimestre, em estrago pior do que o antecipado pelo mercado.>
Para William Teixeira, head de renda variável da Messem Investimentos, a leitura "deixará algumas sequelas, principalmente no mercado de trabalho, mas esperamos a economia com resultado um pouco melhor nos três meses subsequentes", citando em especial a manutenção de auxílio emergencial, agora a R$ 300, até o fim do ano.>
Para Vitor Vidal, economista da XP, "o desafio daqui em diante será mensurar em qual ritmo os auxílios para as famílias e empresas impactarão diretamente a atividade econômica neste segundo semestre e entender, principalmente, como se comportará o mercado de trabalho brasileiro ao passo que a pandemia começar a ceder". Em nota, a XP manteve a projeção de PIB para 2020 em -4,8% e para 2021 em +3,0%.>
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