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BC faz maior intervenção no mercado de câmbio desde crise do governo Dilma

BC faz maior intervenção no mercado de câmbio desde crise do governo Dilma

O resultado no acumulado destes quase três meses é o maior desde o ápice da recessão no governo de Dilma Rousseff, em 2015. Naquele ano, foram R$ 89,6 bilhões em swaps

Publicado em 12 de março de 2020 às 16:41

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Movimentação Bolsa de Valores, índice BOVESPA na Bolsa de Valores de São Paulo, mercado, ações, negócios. (Bruno Rocha/Agência O Globo/ Arquivo AG)

Desde janeiro, o Banco Central já colocou no mercado R$ 21,8 bilhões em swaps cambiais. O instrumento oferece proteção ao mercado contra a alta do dólar.

O resultado no acumulado destes quase três meses é o maior desde o ápice da recessão no governo de Dilma Rousseff, em 2015. Naquele ano, foram R$ 89,6 bilhões em swaps.

Swap em inglês significa troca. No mundo financeiro, o swap é um contrato que permite operações que trocam indexadores. Com o swap cambial, a autoridade monetária auxilia o mercado, se comprometendo a pagar a variação do dólar ao longo de um período predefinido ?oferecendo segurança a quem, por exemplo, tem dívidas em moeda estrangeira.

Para a contabilidade do Banco Central, porém, o swap é registrado como uma perda financeira. As operações fizeram o estoque de swaps emitidos ao mercado crescer no último mês.

"É um risco altíssimo, porque, se o dólar dispara, o BC tem de pagar a variação", diz o professor Mauro Rochlin, da FGV (Fundação Getulio Vargas).

As operações têm sido feitas no momento em que o contágio do coronavírus e a consequente tensão nos mercados pela queda do preço do petróleo geram mais pressão sobre o câmbio.

Essa tendência de alta do dólar diante do real levou investidores a buscarem aplicações mais seguras.

Nesta quarta-feira (11), após a OMS (Organização Mundial da Saúde) ter declarado pandemia de coronavírus, o dólar comercial voltou a subir em relação ao real e fechou em alta de 1,61%, a R$ 4,721.

Um componente adicional de incerteza nesta semana foi a falta de acordo sobre a oferta de petróleo envolvendo Rússia e Arábia Saudita e a queda nos preços globais da commodity.

No Brasil, parte da pressão sobre o câmbio pode estar ligada a fatores domésticos. O ministro Paulo Guedes (Economia) já falou que o patamar do dólar será mais elevado considerando a queda nas taxas de juros.

"É absolutamente natural que o juro de equilíbrio desça e o câmbio de equilíbrio suba um pouco. Pode ser R$ 3,80, R$ 4, R$ 4,20. O câmbio é flutuante, mas o patamar é inquestionavelmente mais alto", disse no mês passado.

Há uma semana, Guedes voltou a tocar no assunto dizendo que a cotação do dólar pode ir a R$ 5 caso "muita besteira" seja feita. Nesta quinta (12), a moeda abriu em alta de 6,52% e atingiu R$ 5,0290.

"Pode chegar a R$ 5? Ué, se o presidente pedir para sair, se todo mundo pedir para sair. É um câmbio que flutua, se fizer muita besteira, ele pode ir para esse nível", afirmou Guedes em evento na Fiesp.

Os swaps não afetam o volume de dólares do mercado porque não oferecem moeda, mas contratos financeiros em que o BC se compromete a pagar a variação no dólar.

Também houve perda com o instrumento no ano passado.

Em agosto, por exemplo, o BC teve de arcar com R$ 24,5 bilhões com essas operações para tentar conter a desvalorização do real diante do dólar.

Naquele momento, houve um acirramento da disputa comercial entre EUA e China, o que levou o dólar a ultrapassar R$ 4. O regulador agiu fortemente no mercado, tanto com operações à vista quanto swap (a prazo).

Apesar dessa situação, as perdas de agosto foram compensadas com ganhos na maior parte dos outros meses. No resultado acumulado de 2019, as perdas somaram R$ 7,6 bilhões com operações de swap.

O BC afirma que "as intervenções têm sido pontuais, respondendo a eventos e disfuncionalidades específicas, mas podem durar o tempo que for necessário para o retorno do regular funcionamento do mercado de câmbio".

Ainda segundo o regulador, as perdas de swap não devem ser analisadas isoladamente. Isso porque as reservas internacionais, por outro lado, se valorizam com a alta do dólar.

Em 2019, a autarquia aproveitou essa valorização e vendeu US$ 36,9 bilhões das reservas internacionais. A maior parte desse dinheiro (US$ 33,3 bilhões) foi destinada a donos de títulos de swap que preferiram trocá-los por dinheiro à vista.

Na segunda-feira (9), o BC vendeu US$ 3 bilhões na modalidade à vista e mais US$ 2 bilhões na terça-feira (10). Nesta quinta, a oferta foi de US$ 2,5 bilhões, mas houve demanda para US$ 1,28 bilhão.

Economistas de grandes bancos nacionais consideram que, aproveitando-se da valorização do dólar, o BC poderia estar "queimando reserva", fechando mais contratos à vista (conhecidos como spot ou pronto).

Na avaliação deles, naquele momento havia um pânico e, mesmo assim, o BC preferiu atuar no mercado à vista.

Dessa forma, ele ganha com a venda, já que o dólar está alto, e o lucro pode ser usado para o abatimento de outros títulos atrelados ao dólar que, na prática, servem para abater a dívida bruta da União.

Alguns especialistas consideram que, com reservas internacionais em torno de US$ 360 bilhões, o país poderia seguir as orientações do FMI (Fundo Monetário Internacional) e operar com reservas em torno de US$ 225 bilhões.

Porém, a questão ainda é alvo de controvérsias entre economistas, que divergem quanto ao tema principalmente no atual momento de estresse nos mercados.

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?O BC nega que esteja priorizando esse tipo de operação. Em sua estratégia para acalmar o mercado de câmbio, ele diz mesclar todas as formas de intervenção.

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