Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Rufinos estreia em disco de indie rock dançante

Na estrada desde 2015, banda aposta em músicas autorais para buscar reconhecimento

Publicado em 28/10/2019 às 06h00
Banda Rufinos. Crédito: Melina Furlan/Divulgação
Banda Rufinos. Crédito: Melina Furlan/Divulgação

Dizem por aí que quando Paul McCartney escreveu "The Long and Winding Road" ("A Longa e Sinuosa Estrada", em tradução livre) ele estava se referindo à vida de um artista autoral independente. Na verdade ninguém diz isso, mas olha... faria todo sentido.

É essa estrada que a banda capixaba Rufinos começa a trilhar com mais empenho agora, com o lançamento do disco "Começar de Novo". Formada em Vitória há cerca de quatro anos, a banda teve aquele início básico, tocando covers das bandas que gostavam - Arctic Monkeys, Strokes e essa leva do indie rock das últimas décadas. Com o tempo, porém, veio a necessidade de compor, de se expressar artisticamente. "A gente sentiu essa necessidade de levar a banda pra um outro patamar. Sabia que seria arriscado, mas era o que a gente queria", conta o vocalista e guitarrista George Henrique.

"Começar de Novo" tem produção de Jackson Pinheiro (ex-Supercombo, Silva, André Prando), que emprestou seu conhecimento e até sua estética sonora ao disco.  Quando surge a linha de baixo de "Realize", que abre o disco, já é possível reconhecer o trabalho do produtor.

O disco pega muita referências das bandas que o Rufinos costumava fazer covers, mas tem identidade forte. Tudo é contemporâneo, moderno e dançante, bem alinhado com o que tem sido produzido no indie pop/rock brasileiro dos últimos anos - tudo embalado por ótimas melodias de George, daquelas que grudam na cabeça, e por letras sobre reinvenção, recomeços etc. Confira abaixo a entrevista com George.

As músicas autorais que estão no disco já existiam quando vocês tocavam os covers?

A gente começou a tocar com covers há um tempinho, 2015 ou 2016. Eram covers de Strokes, Arctic Monkeys, essas bandas mais indies, o mesmo estilo que quis trazer (pro autoral). Banda cover hoje em dia consegue mais shows, desenrolar mais e tal, mas depois de um tempo Sentimos a necessidade de levar a banda pra um outro patamar. Sabíamos que seria mais arriscado, que daria mais trabalho, mas era o que queríamos. Começamos um trabalho de construção das músicas autorais, de desenvolvimento, e foi um negócio meio estranho. De início a gente não pretendia fazer as autorais no nível que saíram, a ideia era fazer uma gravação e começar a tocar as músicas nos shows, mas as coisas aconteceram de um jeito que não imaginávamos

E qual o papel da produção Jackson nessa questão?

A figura dele foi uma coisa fenomenal. Optamos por contratar a produção dele, quando ainda tava começando como produtor, há uns dois anos e meio.

Ele tem muito tempo de música...

Exato! Quando tivemos essa ideia, sabendo que ele é ex-integrante do Supercombo, uma banda que nos inspirava bastante, simplesmente optamos por ficar a mercê do produtor. Valeu muito a pena. Foi muito tempo produzindo esse disco, dois anos e meio, e nesse meio tempo crescemos como músicos, como artistas. Dois integrantes acabaram não aguentando o tranco (risos) ou não puderam estar com a gente, aí acabaram saindo, mas o que nos deixa satisfeitos é que as duas pessoas que entraram já estavam no mercado da música, o Rafael Esquerda, na bateria, e o Rômulo, na guitarra. Eles pegaram no chifre do boi mesmo, sabe? Não são freelancers, são membros da banda. Começamos a desenvolver isso e as coisas foram acontecendo. A gente envolveu também o Marcelo Acari, que me deu aula de canto por muito tempo e fez a produção vocal das músicas junto comigo. Resumindo: um projeto que era pra ser "x" virou nível "100x", não em relação à qualidade, mas com relação ao que a gente esperava. Claro que a qualidade a gente também acha que foi, né (risos)? Mas quem tem que dizer isso são os outros.

Então vocês trabalharam com aquele processo de produtor mesmo, né? Dele estar envolvido em tudo...

Ele (Jackson) foi de fato o quinto elemento da banda. A gente inclusive já tem duas músicas fechadas, que não estão no disco, pra lançar agora como singles daqui a uns dois meses. Também estamos começando a escrever o próximo disco, que também terá coprodução do Jackson, na mesma vibe.

As músicas mudaram muito quando vocês entraram no estúdio?

Mudou muito, cara. Não tínhamos tinha uma identidade e ela acabou sendo criada ao longo do tempo. Foi muito fruto de conversas e dicas do Jackson. Vimos nosso estilo mudar totalmente. Tinha aquela veia de rock um pouco mais pesado, mais próximo do punk, pop-punk ou alguma coisa assim, e agora nossa vertente acabou sendo algo bem indie mesmo. Digamos que grande parte das nossas músicas poderia estar numa pista de dança. A identidade que Rufinos tem é exatamente essa: um rock, com peso de guitarras, principalmente nos shows, mas com a ideia de fazer a galera mexer o esqueleto, dançar e curtir o som, participar do show não só cantando as músicas e curtindo, mas também dançando.  Antes era muito 'guitarrada' e agora tem momentos em que preferimos nem tocar a guitarra, preferindo deixar fluir pra ter uma parada mais moderna. Das guitarras, o que é mais legal é que elas estão ali pra colocar os detalhes. Tirando talvez só "Te Encontrei Mais Uma Vez", que tem mais guitarra, usamos o instrumento nos detalhes.

O disco tem uma variedade sonora bem grande, de músicas agitadas à balada ("No Meu Conceito").

Tem bastante elementos pra poder apresentar, mas o mais legal é que seguimos uma linha em relação à mensagem que queremos passar. Nosso público alvo é uma galera mais nova, que vai da adolescência até a faixa dos 30, então  quisemos fazer uma pegada mais próxima do que rola hoje, mas queremos passar mensagens que falam dos conflitos da vida, de momentos nos quais precisamos nos questionar, de recomeços, de ânimo mesmo... Principalmente nesse mundo cuja informação chega tão rápida e às vezes, quando não conseguimos dar conta, o que acontece muito, acabamos nos cobrando demais.

O público do show de vocês hoje é o mesmo de antes?

Não, mudou totalmente. Vitória tem muito essa coisa das bandas covers levarem gente porque as bandas grandes não vêm pra cá; o Arctic Monkeys não vai vir tocar em Vitória, então a galera vai curtir os shows covers. Mas existe um movimento que está colocando as bandas autorais em evidência novamente, e estamos tentando nos aproximar. A galera da Auri, da Moreati... tem bastante banda autoral nova, uma galera próxima de nós, que curte nosso som, curtimos o som deles e gostamos de estar juntos. O que me chama a atenção é que o público mesmo já está começando a se interessar em ouvir as autorais. A gente ainda tem muito caminho pra andar, mas o primeiro passo já foi dado.

Vocês têm a ambição de viver de música? É algo por que lutam?

A música começou como um hobby, mas já está ficando séria. Eu sempre toquei em outras bandas, os outros trabalham com música também. Estamos em contato pra fazer shows em Curitiba, no Rio... Estávamos vendo nossos streamings e o Rio é a segunda cidade que mais ouve nossas músicas. Nosso alvo é levar a Rufinos a um patamar elevado. Se a gente conseguir fazer isso nacionalmente as coisas realmente se transformam.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.