Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Cainã e a Vizinhança do Espelho quer voar mais alto em novo disco

Com recompensas que vão de carteiras e cervejas artesanais, banda de Linhares quer ajuda dos fãs e amigos para dar voos mais altos na carreira

Publicado em 18/12/2019 às 04h00
Atualizado em 18/12/2019 às 04h00
Banda Cainã e a Vizinhança do Espelho. Crédito: Cainã Morelatto/Divulgação
Banda Cainã e a Vizinhança do Espelho. Crédito: Cainã Morelatto/Divulgação

Um dos nomes mais legais da nossa música está com planos ambiciosos. Cainã e A Vizinhança do Espelho, banda de Linhares, acabou de lançar um projeto no Catarse para realizar um financiamento coletivo para o novo álbum.  A ideia da banda é ir para o Rio de Janeiro gravar com o produtor Bruno Giorgi, filho de Lenine e vencedor do Grammy Latino de Melhor Álbum Rock por seu trabalho no disco "Em Trânsito", gravado pelo pai. 

"Vizinho", sucessor do ótimo "Último Disco do Ano" (2017), terá 10 faixas - algumas delas já estão sendo executadas pela banda nos shows. Formada em 2017 em Linhares, A Vizinhança do Espelho nasceu da inquietação de Cainã Morelatto e logo entrou no circuito capixaba rodando pela região metropolitana e pelo interior.

A banda, antes um quarteto, se estabilizou como trio e, para o novo disco, busca novos rumos e olhares, além de trabalhar com uma estrutura maior.  "Sinto que temos uma limitação trabalhando sozinhos, fazendo as coisas na raça chegamos a um ponto em que nosso conhecimento, nosso tempo, nosso foco não é mais suficiente para alcançarmos o resultado que queremos com a nossa arte", conta Cainã.

Na entrevista abaixo, o músico fala sobre o novo disco, sua visão sobre a música e as recompensas para quem apoiar o projeto - elas vão de camisetas, pôsteres e, óbvio, o disco, até cervejas e carteiras artesanais produzidas em Linhares por pessoas que cercam a banda. Confira.

Você sempre fez tudo na raça, por conta própria, por que decidiu agora partir pra outra estratégia, uma mais profissional?

Por vários motivos que eu sinto que somam e dão numa grande sensação de um passo mais sério, um passo fora do Estado, pro mercado nacional, uma tentativa de um voo mais alto. Em relação a tudo, não só nos contatos e na oportunidade, mas sim pela música, pelo que esperamos do nosso trabalho daqui em diante. É um momento de reformulação pelo qual já passamos como banda, da formação, mas agora estamos num momento de inquietação, não nos basta mais o que foi e precisamos inovar, sentir que estamos contribuindo na música em todo, não só na música local, capixaba, mas tentamos também nos colocar diante do mundo como artistas de uma maneira mais profissional. Não estou dizendo que não seja possível dizer isso estando no interior ou em casa ou sendo independente. Quero dizer que chegou o momento em que sentimos que os pesos externos e a atmosfera do que nos rodeia, até a que  criamos como identidade de uma banda nos últimos dois anos... Precisamos nos afastar um pouco disso pra poder nos enxergar e ver o que vai acontecer agora. A estratégia é dar um passo mais sério sem grandes dificuldades. Sinto quetemos uma limitação trabalhando sozinhos, fazendo as coisas na raça chegamos a um ponto em que nosso conhecimento, nosso tempo, nosso foco não é mais suficiente para alcançarmos o resultado queremos com a nossa arte. É um passo paro mercado nacional, mas um gigantesco passo paro nosso interior, para entendermos o que queremos, o que somos sem as expectativas alheias, sem o peso da mentalidade provinciana, das frustrações de um interior, das limitações de tecnologia, de equipamento, dinheiro, tempo de quem faz tudo sozinho.

A campanha é um "tudo ou nada". Se não rolar, o que vocês planejam fazer?

Se não rolar a campanha a gente pretende levantar essa grana de outras formas ou fazer com que essa parceria aconteça de outras formas. Na verdade o projeto vem amadurecendo desde o Natura Musical, então é algo que já tem uns bons meses que vem sendo trabalhado, mas a cada pontinho ele cresce um pouco mais. Se não rolar nesse financiamento coletivo, vamos pensar numa outra forma de fazer isso. Seja pelos editais da Secult, por parcerias ou arrecadando essa grana de outras formas, com shows... Enfim, vamos fazer com que esse disco aconteça no tempo certo.

Como chegaram até o Bruno? Por que a opção de gravar no Rio?

Eu cheguei ao Bruno pela Simone Marçal e o Daniel Morello, que fazem o Formemus. Eles me levaram para São Paulo junto com uma galera muito legal pro SIM São Paulo de 2018. Durante a conferência o Daniel me apresentou ao Bruno e quando ele veio pro Formemus deste ano fazer um painel sobre produção musical foi incrível. As ideias foram de muita identificação. Começamos a conversar e estamos aí. A opção de gravar no Rio foi uma sugestão dele porque é no estúdio dele. Levantamos outras possibilidades, mas acabamos fechando na ideia por acreditar que teria mais a ver com o forma como  enxergamos a produção e o processo de fazer com que essas músicas nasçam, aquela imersão. Eu tô saindo da minha casa para ir pra casa dele, será que não vai ser um processo caseiro de qualquer forma (risos)? O Bruno é incrível, apegado a equipamentos analógicos, o que demonstra um carinho pela originalidade do som, dos timbres, e isso tem muito a ver com o que queremos. As coisas se conectam.

Cainã Morelatto

Músico

"A nossa música é artesanal de certa forma, então é um capricho pelo resultado que nos une. Essas recompensas vieram desse esforço natural de querer agregar ao projeto coisas que tenham essência"

As músicas do disco já existem? Seguem a mesma linha dos trabalhos anteriores?

As músicas já existem, mas vamos ver como vai ser esse processo de produção. Eu queria muito responder que elas não seguem a mesma linha dos trabalhos anteriores, mas da forma como elas ainda estão, pré-produzidas, elas ainda seguem uma tendência (risos). Nossa intenção é fazer com que elas falem por si. Vamos ver se depois conseguimos traçar essa linhas. Eu espero que seja uma linha de evolução e não uma de estagnação. Não quero que estejamos no mesmo nível de sonoridade, quero que nos desafiemos, que criemos coisas novas e que essas linhas cresçam. Essa reinvenção é muito importante e muito complicada para o artista porque trabalhamos com público, estão estamos sempre muito próximos. Então até que ponto o público está te ajudando, te fortalecendo ou até que ponto, pela expectativa, ele está te limitando a caminhar por uma estrada que você já conhece? Não queremos fazer esse caminho conhecido, pelo contrário, queremos nos desafiar, dar um pulo pra fora da zona de conforto, do que já nos é familiar.

Como vocês foram tendo as ideias das recompensas? Carteira, cerveja...

A gente tem visto uma saída boa dos kits de cerveja e carteira, eles estão saindo mais do que todas as outras recompensas. A gente não esperava. Essas ideias foram de olhar pra dentro do nosso ciclo de amigos, de pessoas com quem convivemos e admiramos, e enxergar nesses convívios o compromisso com o fazer independente, artesanal. A nossa música é artesanal de certa forma, então é um capricho pelo resultado que nos une. Essas recompensas vieram desse esforço natural de querer agregar ao projeto coisas que tenham essência. Assim foi com a Regência Couros, que é de um amigão nosso, o Thiago Custódio, que faz tudo a mão e tem produtos que duram uma vida. A mesma coisa foi com meu irmão, que tem a cervejaria, faz em casa num processo terapêutico para ele. Criar essa linha foi superlegal para o projeto.

Vocês lançaram recentemente o clipe de "Cidadão de Bem". É um single ou a música fará parte do disco?

"Cidadão de Bem" é um single que nasceu como parte desse novo disco, mas foi ganhando vida própria e agora caminha com as próprias pernas. Agora ainda não sabemos se ela vai necessariamente fazer parte do disco, mas é provável que não.

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