Administradora de Empresas e Educadora Física. É Pós Graduada em Gestão Estratégica com Pessoas e em Prescrição do Exercício Físico para Saúde pela UFES.Atua como consultora em acessibilidade e gestora na construção e efetivação das políticas públicas para a pessoa com deficiência em Vitória

Praia para todos: acessibilidade e cidadania

Quem vive em uma cadeira de rodas e ama entrar no mar, no verão costuma sofrer de amor não correspondido

Publicado em 12/11/2019 às 14h15
Programa Praia Acessível em Portugal. Crédito: www.visitportugal.com
Programa Praia Acessível em Portugal. Crédito: www.visitportugal.com

Temperatura nas alturas, muito protetor solar, picolé, água de coco, guarda-sol, cadeira, canga e, por que não, farofa. Verão é isso: praia de todo jeito. Tudo bem que nem todo mundo gosta de ir à praia. Mas em um país como o Brasil, com quilômetros e quilômetros de praias lindíssimas – como as do Espírito Santo, por exemplo – ir à praia no verão é algo bem natural.

Bom para todo mundo?

Nem é preciso pesquisa para entender que o contato com o ambiente da praia reduz o estresse e estimula as pessoas a praticarem atividades físicas, trazendo interação social e benefícios para saúde. À praia, cada um vai como quer, quando quer. Cada um faz o que deseja, desde que não suje e não incomode os outros. Para a maioria, a praia é um lugar democrático, acessível, livre, que oferece espaço para todo mundo. A menos que você não seja um cadeirante, certamente irá concordar.

O desafio de entrar no mar

Quem vive em uma cadeira de rodas e ama entrar no mar, no verão costuma sofrer de amor não correspondido. Isso porque quem é cadeirante precisa de apoio e estrutura para ter acesso a um mergulho. A ida à praia requer rampas, cadeira anfíbia, que flutua na água e anda na areia, além de uma galera treinada para empurrar a cadeira e oferecer segurança à pessoa com deficiência e calor, que só deseja tomar um bom banho de mar.

Parabéns aos portugueses

Em Portugal, o Programa Praia Acessível – Praia para Todos é uma das iniciativas pioneiras quando o assunto é acessibilidade das praias. Implantado em 2004, o programa hoje está presente em 215 das chamadas zonas balneares. A iniciativa é do Instituto Nacional de Reabilitação, em parceria com prefeituras e empresas.

Praias brasileiras acessíveis

No Brasil, há um crescimento da consciência dos governantes para a questão da acessibilidade das praias e, nos últimos anos, muitas cidades de São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Espírito Santo fizeram intervenções para melhoria dos acessos ao local mais disputado do verão. Tais projetos têm como objetivo disponibilizar esteiras que facilitam a cadeira anfíbia chegar até o mar e profissionais qualificados para o banho assistido. Ah, e em muitos estados também são oferecidas outras atividades como o surf, frescobol sentado e passeio de caiaque.

E no Espírito Santo?

Sempre fui fã de praia como a maioria dos capixabas, mas confesso que depois que me tornei cadeirante, ir à praia na Grande Vitória, com autonomia, se tornou algo impossível. E sempre fiquei a espera da boa vontade de um familiar ou de um amigo para poder dar uma “caída”. Até conhecer o projeto Praia Legal, em Vila Velha.

Um verão para não esquecer

Costumo dizer que sou outra pessoa depois que o Projeto Praia Legal - na Praia da Costa - foi lançado, em 2011. Depois de alguns anos, é muito bom ter de volta a autonomia para um belo mergulho. O projeto está situado no trecho da Praia da Costa conhecido como Curva da Sereia (próximo ao Clube Libanês). O Praia Legal funciona durante todo o ano, das 8 às 16 horas, sextas, sábados e domingos. No verão, o atendimento é diário, das 8 às 17 horas, de acordo com o site da prefeitura municipal. Em Vitória, projeto Praia Acessível funciona aos domingos, de 8 às 13h, na Curva da Jurema.

Muito a melhorar

Se a acessibilidade às praias é um ponto a ser melhorado, existe também a necessidade de tornar essas informações disponíveis e atualizadas nos sites das prefeituras ou dos programas. Esta colunista que vos escreve tentou achar informações atualizadas também sobre o Praia Acessível, em Guarapari, ou sobre alguma iniciativa referente à acessibilidade nas praias do município da Serra, mas nada encontrou.

Qual a sua praia?

Não sei qual é a sua, mas a minha praia é a que todos podem ir. Para mergulhar, nadar, curtir o sol, fazer amigos, sentir a areia em contato com a pele. Ninguém deveria ser privado de viver momentos assim. O Brasil possui, segundo o último censo, cerca de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Não seria incrível se nós, capixabas, pudéssemos oferecer, além da nossa maravilhosa moqueca, praias limpas, bem cuidadas e acessíveis? Aos turistas, desejo que o verão seja inesquecível. A todas as pessoas com deficiência, que o verão seja possível e acessível.

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