E professor e escritor

Saudosistas do passado ditatorial ressurgem e põem o futuro em xeque

Vivemos tempo de mudanças, de retrocessos, de involuções, quando as relações sociais e humanas se transformam rapidamente

Publicado em 16/09/2019 às 14h12
Diferentemente do que se pensava, a história não é um tempo de constante crescimento. Crédito: Divulgação
Diferentemente do que se pensava, a história não é um tempo de constante crescimento. Crédito: Divulgação

Vivemos num tempo especial da história da humanidade, tempo de mudanças, de retrocessos, de involuções, quando as relações sociais e humanas se transformam rapidamente e tudo que parecia sólido se desmancha no ar. Diferentemente do que se pensava até o princípio do século XX, a história não é um tempo contínuo, evolutivo, de constante crescimento.

Para Foucault (1924-1984), filósofo francês que se consagrou por suas reflexões sobre o poder e o conhecimento, e se torna atual por suas lutas contra o racismo, o sistema prisional e as discriminações de gênero, até o século XIX, se concebia uma grande história plana, uniforme, que teria arrastado, num mesmo fluir, numa mesma queda ou ascensão, todos os homens, animais e coisas.

A partir do século XX, essa unidade é vista fraturada, pela descoberta de uma historicidade própria à natureza; pôde-se mostrar que atividades tão singularmente humanas, como o trabalho ou a linguagem, detinham uma historicidade que não podia encontrar seu lugar na grande narrativa comum às coisas e aos homens.

Há uma atenção maior à história humana, abandonando a ideia de uma ordem ou de um plano contínuo do tempo. O ser humano não tem mais história: porque fala, trabalha e vive, acha-se imbricado em histórias. Para ele, com o século XIX, cessou a pura crônica de acontecimentos, a simples memória de um passado povoado somente de indivíduos e de acidentes, e buscaram-se as leis gerais do devir.

O que vem à luz é uma forma nua da historicidade humana - o fato de que o homem enquanto tal está exposto ao conhecimento. Portanto, o homem histórico é o homem que vive, trabalha e fala, e todo conteúdo da História, qualquer que seja, concerne à psicologia, à sociologia ou às ciências da linguagem.

Foucault não viveu para ver o século XXI e seu retrocesso conservador, antidemocrático, em que as lutas libertárias da segunda metade do século XX encontram-se em risco com a ascensão de Trump nos EUA e de seus estereótipos pelo mundo, incluindo o Brasil. Quando morreu, lutávamos, aqui, para restaurar a democracia, com o movimento das “Diretas Já”!

A censura havia terminado, a ditadura se esmorecia e novos tempos viriam. Sonhávamos com tempos democráticos, de pacificação, de crescimento econômico, de prosperidade social. Muitas conquistas vieram, outras não se completaram. Isso fez com que os saudosistas do passado ditatorial ressurgissem, que ideologias nazifascistas, que pensávamos extintas, se aflorassem numa escala infinita pelas redes sociais, que a violência aumentasse, sobretudo a contra as mulheres, os gays, os negros e os imigrantes. Tempos sombrios, semelhantes aos vividos há cerca de 100 anos e que redundaram nas guerras mundiais devastadoras de grande parte da humanidade. Será esse o nosso futuro? O autoextermínio?

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