Jornalista de A Gazeta. Há 10 anos acompanha a cobertura de Economia. É colunista desde 2018 e traz neste espaço informações e análises sobre a cena econômica.

A nossa Geni de cada dia

Publicado em 10/02/2019 às 15h24
Atualizado em 13/09/2019 às 12h43
Produção de minério da Vale: doações de campanha. Crédito: Vale/Divulgação
Produção de minério da Vale: doações de campanha. Crédito: Vale/Divulgação

O episódio de interdição de algumas atividades da Vale no Complexo de Tubarão, ocorrido na última semana, expõe a quantidade de erros envolvidos neste processo. Há problemas graves sob pontos de vista diversos, a exemplo do ambiental, do econômico e do político.

Todos eles existem há tempos, mas estão sempre inertes, esperando estourar uma crise para virem à tona. Quando isso acontece, cada um tem sua desculpa e também o seu culpado. Todos estão certos e errados ao mesmo tempo. É impressionante como isso é possível e se dá de forma tão previsível. A verdade é que há uma Geni para cada situação.

A emissão de poluentes pela Vale já passou há muito tempo dos limites tolerados pelo meio ambiente e pela sociedade. Ninguém aguenta mais conviver com o pó preto e todas as consequências que ele e outros poluentes trazem para a nossa saúde e para a sobrevivência da fauna e da flora. Pode até ser que a empresa esteja cumprindo condicionantes e em conformidade com a legislação, como alega, mas assim como vimos nas tragédias em Mariana e Brumadinho, estar em dia com as licenças e regras já não basta.

É preciso um comprometimento e um investimento maior por parte de companhias como a Vale em processos e sistemas que garantam a segurança das operações, dos trabalhadores, das comunidades e do meio ambiente.

Para isso, órgãos fiscalizadores e lideranças políticas não devem se valer apenas desses períodos de crise para atuar de forma enérgica. Com a opinião pública cobrando respostas e punições, é fácil ser duro e combativo. Quando a poeira abaixa, entretanto, poucos são os que se mantêm vigilantes e críticos às grandes corporações.

Um especialista ouvido pela coluna cita que, tanto o acidente da Samarco, em 2015, quanto o da Vale, neste ano, aconteceram em momentos em que as empresas apresentavam os seus melhores resultados. “Eles aconteceram quando elas mais ganhavam dinheiro. As companhias têm que tirar essa visão financista e do lucro acima de tudo. Elas devem ser mais participativas na sociedade. É possível conviver com o dinheiro e com a comunidade. Não são soluções drásticas, como o fechamento das empresas, que vão resolver o problema. O que precisamos é de um comprometimento conjunto seguido por ações efetivas.”

O que essas recentes situações nos provam é que há uma economia burra sendo feito por muitas organizações. No caso da Vale, já está mais do que claro que os prejuízos para a sua imagem e saúde financeira são gigantes e irão se prolongar por bastante tempo. Se o método de exploração e produção de minério escolhido não fosse o mais barato, o chamado ‘a montante’, possivelmente não estaríamos aqui levantando essa discussão. Buscar a eficiência e o lucro faz parte da razão de existir de qualquer negócio, mas isso não pode ser às custas do menosprezo em relação às precauções.

Assim como não podemos fazer vista grossa para a omissão das empresas, é preciso ter cuidado com saídas simplistas como querer fechar as portas dessas companhias de uma hora para outra. No caso do Espírito Santo, por fim às atividades da Vale significa arrancar 13% do PIB do Estado e comprometer 11 mil empregos diretos, além de outros milhares de indiretos, e jogar no chão a arrecadação da Capital.

Na última sexta, em entrevista à CBN, o prefeito Luciano Rezende destacou que o discurso econômico não pode se sobrepor e “justificar a destruição da saúde, da qualidade de vida e do meio ambiente”. Ele está coberto de razão. Mas ao afirmar que “se Vitória foi capaz de sobreviver ao fim do Fundap, ela também vai sobreviver ao fim do pó de minério”, se referindo ao fim da empresa, o prefeito foi otimista demais.

Fontes consultadas pela coluna não têm a mesma visão. “Fechar a Vale seria avassalador e a cidade entraria em colapso. A maior parte da arrecadação do ISS e do ICMS vem da mineradora”, comenta um especialista.

Um consultor acrescenta que sem a Vale, as atividades da ArcelorMittal Tubarão também seriam comprometidas. “A Vale e a Arcelor morrem juntas, umbilicalmente. Não dá para ser simplista. Só as duas têm orçamento de custos maior do que todos os municípios do Estado, com exceção dos da Grande Vitória.”

O que os analistas avaliam é que Vitória e o Estado como um todo têm que ser capazes de cobrar ações em prol da sociedade continuamente e com rigidez e, mais do que isso, trabalhar na diversificação do nosso arranjo produtivo. Ao longo da história nos tornamos dependentes de poucas atividades econômicas. Virar as costas para elas sem oferecer alternativas para a população capixaba também é uma forma de omissão. É tarde, mas ainda há tempo de buscar esse equilíbrio.

Expectativa X Realidade

Na última semana, São Paulo anunciou a redução do ICMS de 25% para 12% no combustível da aviação, assim como aconteceu no ES em outubro de 2018. A diferença é que lá a iniciativa vai significar 490 voos a mais para 21 Estados. Já aqui, mais de três meses depois, não se viu nada concreto no Aeroporto de Vitória. A tão esperada rota internacional para Buenos Aires até agora não decolou.

Capivaras levam perigo para o Aeroporto de Vitória

O Aeroporto de Vitória anda recebendo algumas visitas indesejadas. Capivaras resolveram dar uma volta em áreas perto das pistas de pousos e decolagens, levando perigo para as operações. Na noite de segunda-feira (4), a equipe que atua com manejo de fauna relatou um grupo de capivaras próximo às cabeceiras 20, da nova pista, e 24, da pista antiga. Uma aeronave precisou arremeter e outras duas ficaram em espera até serem autorizadas a pousar.

Já na terça (5), no processo de decolagem, um avião atropelou e matou o mamífero. O acidente foi constatado quando uma outra aeronave estava se preparando para decolar pela cabeceira 20, da pista nova. O piloto reportou uma ave morta, fazendo com que uma equipe fizesse a inspeção no local. Ao ser averiguado do que se tratava, percebeu-se que não era um pássaro, mas uma capivara, que logo foi retirada da pista.  

Inteligência nos negócios

O Centrorochas vai lançar na Vitória Stone Fair uma ferramenta de Business Intelligence para auxiliar os negócios dos exportadores de rochas. O programa vai fazer um raio-x detalhado de potenciais compradores, além de identificar o comportamento global desse mercado.

 

Pauta velha, mas muuuito necessária

O governador Renato Casagrande (PSB) está decidido que a pauta principal que ele em conjunto com a bancada capixaba devem trabalhar em Brasília é a da infraestrutura. Nesta segunda-feira (11), ele vai se reunir com os parlamentares na Residência Oficial, em Vila Velha, para passar o recado. Só mesmo unindo muito esforço para superar esse gargalo.

NA LATA

Perfil

Renata Malenza é sócia do Grupo Corcovado BrasigranNome: Renata Malenza

 

Empresa: Grupo Corcovado Brasigran

No mercado: Desde 1986

 

Negócio: Mineração e beneficiamento de rochas ornamentais

 

Atuação: Brasil, Ásia, França Itália, EUA, Oriente Médio, Leste Europeu

Funcionários: Cerca de 700

 

Jogo rápido com quem faz a economia girar

Economia: Passou por uma fase difícil, mas vejo que a economia está crescendo e o mercado está passando a valorizar mais os produtos brasileiros.

Pedra no sapato: Falta de caráter, de honestidade e de profissionalismo.

Tenho vontade de fechar as portas quando: Não tenho essa vontade.

 

Solto fogos quando: O cliente fica satisfeito com o que entregamos.

Se pudesse mudar algo no meu setor, mudaria...: A união entre o setor, que ainda é muito desunido.

 

Minha empresa precisa evoluir em: Tudo. Essa busca tem que ser contínua. Estamos aqui para aprender e tentar ser melhores a cada dia.

 

Se começasse um novo negócio seria...: O de aproveitamento de resíduos de rochas.

Futuro: Entregar produto customizado para projetos de alto padrão com beleza, qualidade, pontualidade, sustentabilidade e alta tecnologia aplicada.

 

Uma pessoa no mundo dos negócios que admiro: Meu pai, Giulio Malenza, que é o fundador da empresa. É um visionário e muito generoso.

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