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Aos professores, com caminhos

Somente com o apoio dos professores poderemos, de fato, oferecer uma educação onde todos os alunos possam ser muito especiais

Publicado em 15/10/2019 às 12h05
Atualizado em 30/03/2020 às 13h59

Hoje quero falar de um ser que considero a mola propulsora de sonhos: o professor. Quem consegue esquecer o primeiro dia em que foi à escola? Eu jamais esqueço. Lembro-me de cada detalhe antes de sair de casa. Do uniforme novinho, do tênis e da meia. O cabelo era vigorosamente penteado pela minha mãe, com tic tac, gel e rabo de cavalo. Confesso essa era a parte que não me agradava muito. Minha mãe teve quatro meninos antes de mim. Então, delicadeza com os cabelos ainda era uma questão de treino. Eu corria inquieta de felicidade com aquele momento.

Já na escola, mesmo diante de tantas novidades e a um passo para uma nova etapa de vida de uma criança, me encontrava vez ou outra apreensiva sem saber se teria alguém para me buscar na hora da saída. Chorei.

Era uma mistura de alegria e medo que criança tem, mas que não passaram despercebidos pela professora, tia Janete, que, de olhos atentos, me pegou pela mão e disse: não chore, se não tiver ninguém aqui na hora da saída eu fico com você.

A tia Janete me alfabetizou, mas o que ela fez naquele momento de solidão foi muito além de ensinar que o B mais A é BA. Ensinou o acalento, o cuidado, a empatia. A escola é a primeira oportunidade que temos para aprender a conviver com outras pessoas para além do ambiente familiar e não é novidade também que a educação, hoje, é uma área que mais enfrenta conflitos e desafios.

Infelizmente, quando falamos de educação inclusiva, por exemplo, ainda vemos muitas crianças, adolescentes e jovens com deficiência sem acesso à escola ou que permanecem sem a qualidade desejável. Sei dos diversos programas de governo, como o BPC ( Beneficio de Prestação Continuada) na escola, que visam a diminuir esses índices. Mas o que quero enfatizar aqui é sobre esse ser que dá sentido a querermos estar na escola e nos sentir parte de um todo em construção.

Certa vez - não lembro exatamente quando - assisti feliz a uma reportagem sobre “Educação para Todos”. Vi uma escola que respeita e valoriza todos os alunos, cada um com a sua especificidade. Uma escola que acolhe e se modifica para garantir que os direitos de todos sejam respeitados.

Confesso, percebi ali, o que muitos professores, assim como eu, já conseguem enxergar: a educação inclusiva é o melhor caminho para os alunos com deficiência e para toda a sociedade. Mas, atenção, somente se o professor quiser isso vai acontecer.

Sabemos que a educação inclusiva não é algo passageiro ou sem importância. Ela é o resultado de muitos debates, estudos teóricos, políticas públicas e práticas que tiveram e têm a participação e o apoio de organizações de pessoas com deficiência e educadores, no Brasil e no mundo. É uma discussão que trata também de um contexto histórico em que se traz a Educação como um espaço de garantia de direitos, da equidade e do exercício da cidadania.

Somente com o apoio dos professores poderemos, de fato, oferecer uma educação onde todos os alunos possam ser muito especiais. Uma educação onde o professor consiga enxergar e considerar a deficiência de uma criança como mais uma das muitas características/atributos diferentes que os seus alunos podem ter. E, sendo assim, respeitar essa diferença e encontrar maneiras adequadas para transmitir o conhecimento. E podemos começar a fazer isso agora. Basta querer, ter amor por ensinar.

Em minhas palestras - principalmente na área da Educação - sou abordada sobre como eu faço para ensinar uma modalidade tão difícil como a ginástica artística, do alto da minha cadeira de rodas.

Conexões

Demorei em entender isso também. De uma coisa eu nunca vou esquecer: da primeira vez que estava dentro da sala de ginástica com um monte de crianças dependendo de mim. Por muitos instantes eu fiquei perdida sem saber de fato o que fazer. Mas fui criando minhas conexões, estudando muito a modalidade, fui entendendo cada criança, me entendendo como atleta e com uma professora sentada também e tentando novas maneiras de ensinar aquilo que tanto dominava. Até hoje busco novas formas de aprender a ensinar. Na ginastica tem um aparelho chamado Trave de Equilíbrio, e costumo fazer essa relação do treino de trave com a arte de ensinar: quanto mais quilometragem (na trave e na profissão) melhor. Eu também costumo deixar as portas da sala de aula abertas para quem tiver uma curiosidade mais apurada, para termos esse entendimento juntos. É só chegar.

O que quero dizer é que nós, professores, somos responsáveis por cada passo que nossos alunos dão em direção aos seus sonhos e desejos. Podemos alavancar o destino deles para muito longe ou podemos colocar tudo a perder.

Na verdade, conviver com a diversidade exige de nós novos posicionamentos, não só o metodológico ou o instrumental, mas, também o ético. Aí está o grande desafio para que um projeto de inclusão aconteça com sucesso. A realidade de nossas escolas ainda é de enormes desafios e de muitas tarefas a cumprir para atender à sua missão de ensinar a todos com equiparação de oportunidade. Mudar é difícil, não impossível.

Parabéns se você é um desses que acredita, tem atitude e faz a diferença Pois eu entendo que a missão do professor do século XXI é ampliar a experiência dos seus alunos para que consigam aprender o precisam. O caminho parece nos mostrar que bons professores têm impacto positivo no capital humano, na vida adulta e no bem-estar social. Um salve para a tia Janete e todos os professores brasileiros.

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