O cotidiano das nossas cidades, a cultura, a política, a economia e o comportamento da sociedade estão no foco da coluna, que acompanha de perto também as políticas públicas e suas consequências para os cidadãos

A cada dois dias, três pessoas somem no Espírito Santo

Publicado em 18/08/2019 às 19h01
Atualizado em 24/08/2019 às 23h10

Aline Nunes - interina

Informações para casos de pessoas desaparecidas podem ser feitas pelo telefone 181 ou no site disquedenuncia181.es.gov.br. Crédito: Fernando Madeira
Informações para casos de pessoas desaparecidas podem ser feitas pelo telefone 181 ou no site disquedenuncia181.es.gov.br. Crédito: Fernando Madeira

Até a última sexta-feira, 351 desaparecimentos foram registrados no Estado, somente em 2019. Isso significa que três pessoas somem a cada dois dias, conforme dados da Delegacia Especializada de Homicídio - Pessoas Desaparecidas.

Mortes investigadas

Desse total, 277 foram localizadas, sendo 18 mortas em circunstâncias que ainda são apuradas pela polícia.

Sem paradeiro

Embora a grande maioria já esteja de volta ao convívio familiar, de 74 pessoas o paradeiro ainda é desconhecido. Para ajudar nas investigações da polícia, informações podem ser passados por meio do 181 (disque-denúncia)

Mais inteligente

Vitória vai ter um Centro de Inteligência Municipal, onde vai reunir grandes bases de dados para auxiliar a tomada de decisões para a cidade.

Indicadores

O espaço, que vai contar com um financiamento de R$ 47 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), vai ter indicadores de trânsito, chuvas, áreas de risco, entre outros setores.

Tempo real

A ideia é facilitar a análise desses dados, reunidos em um só lugar, e ter acesso a tudo em tempo real. O centro será construído na região de Goiabeiras, e o prazo é de 18 meses a partir da licitação.

Represália

Após fazer uma representação contra a Yellow no Ministério Público, para que adote algumas medidas de segurança, o presidente do Movimento Praia do Canto diz que está sendo retaliado.

Tem crédito

Armando Fontoura conta que não consegue mais usar o serviço de bike compartilhada - sempre aparece mensagem de erro - e o pior: ainda tem saldo de R$ 15 que não consegue estorno.

Pergunta lá

Um posto de gasolina em Vila Velha, aproveitando a fama de Paulo Guedes, a quem na época da campanha Jair Bolsonaro se referia como a pessoa que sabia de tudo, tascou a foto do ministro junto à placa de preço.

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MINIENTREVISTA

"Não precisamos de veneno para produzir comida"

Em 2019, o governo federal liberou 290 agrotóxicos para a produção agrícola, e o seu uso suscita debates entre ambientalistas, médicos, produtores rurais. Elaine de Azevedo, professora do Departamento de Ciências Sociais da Ufes e autora do livro Alimentos Orgânicos, diz nesta entrevista por que considera a liberação um problema e sugere outros caminhos.

O que significa a liberação de quase 300 agrotóxicos no país?

A liberação destes venenos para o meio ambiente representa um descaso. Temos visto outras ações deste governo com relação ao meio ambiente, que dizem respeito ao desmatamento e à preservação das comunidades tradicionais que vivem na Amazônia, e demonstra que está mais interessado no agronegócio e na monocultura do que na agricultura familiar e na produção de comida. O que mostra é que há um descaso com o meio ambiente e infelizmente com a saúde pública. Para produzir alimentos em policultivo, nós não precisamos de veneno. Nós conseguimos, e já esta comprovado e há vários estudos, inclusive da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), de que é possível produzir comida com uma margem de 10% a 20% a mais ou a menos em produtividade, para cada espécie vegetal, dependendo se ela é local ou exógena, sem venenos. Então, a liberação dos agrotóxicos representa um descuido com o meio ambiente e a saúde pública.

Para a saúde, quais são os efeitos?

Há um consenso entre todas as grandes organizações: Organização Mundial de Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Associação Brasileira de Saúde Coletiva, o Instituto Nacional do Câncer, muitas pesquisas feitas por pesquisadores sérios em todas as instituições de que os agrotóxicos causam diversos problemas para a saúde, como autismo em crianças, Parkinson cada vez mais cedo, vários tipos de câncer, doenças neurológicas que vão desde uma dor de cabeça até depressão e suicídio entre agricultores, doenças dermatológicas, esterilidade, infertilidade. Uma vez que se libera mais veneno com o intuito de maior produtividade que não se justifica, o que a gente percebe é uma desqualificação e falta de responsabilidade com a saúde pública da população. E o mais irônico é que quem libera também vai sofrer com estes venenos, porque não existe limite de como conter a contaminação pelos agrotóxicos e contaminantes da agricultura em geral. Todos serão afetados. É muito claro que a saúde não é prioridade deste governo. 

 

Defensores da medida sugerem que, assim como um remédio que tomamos, o que faria mal seria uma alta dose de agrotóxico.

Quando se usa o nome defensivo agrícola é uma maneira de falar de venenos da agricultura que não são mais necessários. Fala-se que a diferença entre veneno e remédio é a dose. Porém, quem de nós toma remédio se não precisa? Qual de nós tomaria droga se não necessita? O que deve ser compreendido é que não precisamos de veneno para produzir comida, não precisamos de mais venenos para poluir o meio ambiente da maneira que se faz. Não há porque usar venenos em pequenas ou grandes doses. O fato é que, quando se usa uma dose de veneno menor, a gente só morre mais devagar. É como fumar menos. Não é que não vai fazer mal, só vai retardar os efeitos do malefício. Fumar mais ou usar mais significa acelerar os problemas que o veneno traz. Tentar acobertar o nome de um veneno como defensivo agrícola é uma falta de responsabilidade das autoridades que deveriam estar preocupadas com a saúde pública brasileira.

Qual a sugestão para equilibrar interesse dos produtores com o da sociedade?

Está claro que, quem trabalha com agricultura familiar orgânica, não imagina que o agronegócio e monoculturas que precisam de veneno vão ser eliminadas de um dia para o outro. Elas são necessárias para produzir divisas, PIB, para exportação. Mas existem maneiras de pensar em como estimular uma agricultura familiar orgânica que não usa veneno e que possa efetivamente alimentar com saúde a população, e favorecer o agricultor familiar e conservar o meio ambiente. A primeira ação seria vontade política de dividir o bolo do Ministério da Agricultura. Hoje, 75% dos recursos vão para o agronegócio. Por que não dividir 50% para agricultura familiar e boa percentagem disso para agricultura familiar orgânica? Se tiver vontade política vamos ter mais alimentos de qualidade, mais produção agrícola sustentável, que são as premissas dos países desenvolvidos.

Então, é uma primeira proposta que implica também em fazer com que os agricultores tenham locais de venda mais dignos, como armazéns de agricultura familiar orgânica, já que o agricultor quando faz feira é sobrecarregado na sua atividade de produzir, tem que transportar, administrar e vender, na chuva ou no sol. Um jeito seria ter armazéns, outro seria favorecer o transporte dos produtos até as cidades através de subsídios. Existe também o apoio dentro de universidades públicas, editais de fomento para estimular a pesquisa e a produtividade da agricultura familiar orgânica. Existem as políticas de subsídio e apoio para agricultura familiar que vão favorecer os que produzem orgânico que, em sua maioria, são de origem familiar; propaganda, apoio, para que as pessoas entendam os benefícios do orgânico, para que a gente pudesse equilibrar esta produção que vai para o PIB, para exportação, e a que faz comida.

É preciso deixar bem claro que são dois interesses: hoje a gente tem 75% da verba que vai para o agronegócio, e que não alimenta a população, e com 25% dos recursos a agricultura familiar, sem ser orgânica, já produz quase a maioria dos alimentos que a gente come. Então, se a gente tivesse meio a meio, haveria uma grande mudança no quadro. Então tudo depende de vontade política. O preço dos orgânicos vai baixar se tiver subsídio, e se também o governo colocar e mantiver estes alimentos nas escolas públicas, nos hospitais, nas prisões.  Esse apoio institucional seria uma maneira de dar uma garantia para o agricultor familiar orgânico, de baratear o preço para todos, e fazer com que toda a população tenha acesso à saúde e o meio ambiente seja preservado.

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