Por pouco uma tragédia não aconteceu após a marquise de um imóvel desabar na Praça Oito, no Centro de Vitória, nesta quinta-feira (29). Infelizmente, três mortes não puderam ser evitadas há 32 anos, quando uma loja de calçados desabou na Rua Gonçalves Dias. A tragédia aconteceu em pleno feriado da Independência, no dia 7 de setembro de 1988.
Na época, o Corpo de Bombeiros analisou que o desabamento havia acontecido porque a laje e o suporte que a escorava não aguentaram o peso da construção que estava sendo feita sobre ela. A corporação chegou cerca de 10 minutos após a tragédia, retirou feridos e vítimas que estavam sob mais de 10 toneladas de escombros.
Populares que presenciaram o desabamento relataram que ouviram um barulho estridente e, logo após, viram a loja se transformar em uma nuvem de poeira. Também foram pessoas que passavam pelo local que socorreram o primeiro homem ferido, um vendedor que havia sofrido ferimentos superficiais. Ele contou na época que a loja havia sido submetida a uma reforma para a construção de um segundo piso. Os dois pedreiros e dois ajudantes saíram ilesos.
Veja abaixo a reportagem que saiu na edição impressa de A Gazeta na época da tragédia:
Os três mortos, identificados como Margarida Bedina Brumana, Gustavo Brumana e Arlindo Ramos, foram encontrados sob os escombros após mais de 2 horas de buscas pelos Bombeiros. O episódio mais dramático de toda a operação foi a retirada do vendedor Luiz Antônio Boscálio Ramos, levando quase 5 mil pessoas a se reunirem em torno do prédio.
Por quase duas horas, 16 homens do Corpo de Bombeiros sustentaram a laje que imobilizava o corpo do vendedor do peito para baixo, enquanto um dos soldados se mantinha junto ao vendedor para tranquilizá-lo. Com pás, picaretas, enxadas e as próprias mãos, os bombeiros retiraram os tijolos, as estacas da construção, pedaços de vidro e móveis que se misturaram aos sacos de cimentos e às mercadorias da loja.
A notícia do acidente reuniu em torno da loja parentes e amigos dos proprietários e funcionários que, desesperados, procuravam ajudar no salvamento das vítimas. O proprietário da loja, Moacyr Luiz de Souza Ramos, que não se encontrava no local na hora do acidente, garantia que, durante todo o tempo em que permaneceu nas imediações do desmoronamento, havia muitas pessoas lá dentro, inclusive seu irmão, Arlindo de Souza Ramos, que era o gerente do estabelecimento e foi encontrado soterrado e já morto horas depois.
Os mais de 40 homens da Polícia Militar e da Polícia Civil que tentavam desimpedir o local, muitas vezes tiveram que ser enérgicos com os populares que se reuniram em torno do prédio.
A operação também reuniu cerca de 45 policiais da Companhia de Trânsito que, com motos cercando o local interditado, tentavam garantir o mínimo fluxo na Avenida Jerônimo Monteiro. A operação também mobilizou três ambulâncias do Hospital São Lucas e da Santa Casa de Misericórdia, com duas equipes médicas de socorro.
O resgate dos três mortos e quatro feridos exigiu cinco horas de intensas buscas do Corpo de Bombeiros. Duas horas foram gastas apenas no salvamento de Luiz Antônio Boscálio Ramos, vendedor que ficou imprensado entre o solo e a laje que caiu.
Logo depois da retirada de Dulcinéia Ramos e Lourenço Molina, que estavam próximos à porta da sapataria, os bombeiros identificaram outro sobrevivente entre os escombros. Os bombeiros deslocaram também um homem da equipe de busca e salvamento para ficar próximo ao vendedor e manter contato com ele durante todo o resgate.
O salvamento do vendedor exigiu que a laje que o imprensava fosse escorada por cinco estacas de construção, que 16 homens se encarregavam de empurrar, enquanto o resto da equipe escavava ao redor das pernas de Luiz. A laje foi derrubada a golpes de marreta e o vendedor, consciente e conversando com o policial e os médicos, revelou que a maior pressão que sentia era sobre o peito e não sobre as pernas.
Depois do resgate do vendedor, o Corpo de Bombeiros ficou sem esperanças de encontrar qualquer pessoa viva sob os escombros, já que a principal laje tinha sido retirada e o que restava na loja era puro entulho. Após cerca de minutos de mais buscas, localizaram o corpo de uma mulher de vestido amarelo e cabelos loiros, que depois foi identificada como Margarida Molina.
Junto à vítima, os bombeiros encontraram o filho dela, Gustavo, de 3 anos. O último corpo encontrado foi o do gerente e irmão do dono da loja, Arlindo de Souza Ramos, esmagado pelos escombros. Um cirurgião-geral constatou o óbito dos três por sufocamento e esmagamento.
"O que aconteceu foi como um terremoto, mas eles só conseguiram me tirar. A minha mãe ainda ficou". Essa foi a expressão usada por Lourenço Molino Brumanara, que tinha cinco anos na época.
Do acidente, o menino dizia não se lembrar de nada apenas de que tinha entrado na loja para a mãe comprar um par de sapatos, e que depois iria em uma lanchonete comer coxinha com refrigerante. No hospital, ele chegou sozinho, nos braços de um dos bombeiros.
A "total irresponsabilidade na construção" do segundo piso da loja Mic An Calçados foi apontada pelo então capitão Élvio Rebouças, que era coordenador da ação do Corpo de Bombeiros do resgate dos feridos e das vítimas nos escombros. O capitão afirmou à época que pediria a abertura de um inquérito para apurar a responsabilidade pelo acidente, que considerou "criminoso".
O pedreiro Sebastião Pereira, que trabalhava na obra, não conseguiu definir com precisão as causas do ocorrido. Em estado de choque, ele disse apenas que a obra não possuía engenheiro responsável, e que tinha desabado devido a um "escoramento insuficiente". "Eram apenas duas vigas e não deu para aguentar o peso", afirmou.
Na avaliação do Corpo de Bombeiros, a construção de um segundo andar sobre paredes de 15 centímetros, sem estrutura de amarração, foi uma decisão de extrema irresponsabilidade.
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