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Lula participará de leitura de manifesto pela democracia na USP em 15 de agosto

Lula participará de leitura de manifesto pela democracia na USP em 15 de agosto

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) participarão da leitura de um manifesto em defesa da democr...

Publicado em 8 de agosto de 2022 às 13:45- Atualizado há 2 anos

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) participarão da leitura de um manifesto em defesa da democracia na Universidade de São Paulo em 15 de agosto, data de retorno das aulas.

Trata-se de documento elaborado pelo coletivo USP Pela Democracia, formado por professores, estudantes e servidores da universidade, diferente do que será lido no Largo de São Francisco na quinta-feira (11). O manifesto pode ser lido na íntegra abaixo.

Intitulado "A democracia no Brasil corre risco. Basta", o texto conta com assinaturas de figuras como Marilena Chauí, Paulo Arantes, Ermínia Maricato, José de Souza Martins, Olgária Matos, Fernando Novais, João Adolfo Hansen, entre outros.

O evento contará também com uma aula pública ministrada por Chauí e Maricato, professoras da universidade, e acontecerá no vão do prédio de História e Geografia da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas).

Nesta segunda-feira (8), membros da campanha de Lula estiveram no local para analisar as condições de circulação e de segurança.

Em um jantar em 29 de junho, na casa de Haddad, o presidenciável interessou-se por relatos a respeito de mudanças na USP, que teria se tornado mais progressista desde o surgimento da lei de cotas. Ele então teria manifestado vontade de participar de uma atividade na universidade.

O vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), também participou do encontro, que teve a presença do reitor da USP, Carlos Carlotti Júnior.

"É uma oportunidade ímpar para os alunos da USP ter acesso a personagens políticas relevantes. Fora a possibilidade de ouvir a Marilena Chauí falar, uma professora emérita da faculdade. Uma aula aberta, no começo de semestre, em que você pode escutar quatro pessoas interessantes, acho que já vale a pena. E sobre um tema fundamental, a democracia e a universidade pública. A defesa da universidade pública, de qualidade, para todos, inclusiva, é uma coisa que todo mundo fala, mas muitas vezes esquecem que é algo que devemos buscar sempre", diz o professor Paulo Martins, diretor da FFLCH, que participa da mobilização por apoio ao manifesto.

"A democracia no Brasil corre risco. Basta.

Por esta razão nós, docentes, servidores técnico-administrativos e estudantes da Universidade de São Paulo, propomos ampliar o debate sobre as incertezas e apreensões da conjuntura política afirmando, como exigência democrática, a necessidade de que os direitos sociais declarados na Constituição de 1988 devam ser respeitados e devidamente concretizados. As próximas eleições serão decisivas para o destino de nosso país, num momento em que as desigualdades sociais se aprofundam em ritmo acelerado e que a violência contra as populações vulnerabilizadas tornou-se rotineira e assustadoramente naturalizada.

Em janeiro de 1959, professores e professoras, sentindo-se "mais uma vez convocados", escreveram um texto histórico a favor do direito à educação pública e de qualidade, referido na epígrafe deste documento. Hoje também nos sentimos mais uma vez convocados: a Democracia no Brasil corre risco!

E corre risco porque o passado autoritário parece não ter passado de todo, quando torturadores permanecem impunes por seus crimes e ainda são elogiados publicamente na "Casa do Povo". Esse contrassenso, perpetrado por quem deveria proteger o Estado Democrático de Direito, abriu espaço para a emergência de situações de instabilidade jurídica, assim como para todo tipo de violação de direitos fundamentais. A partir daí avolumaram-se as fake news mais abjetas e arquitetaram-se práticas de lawfare, já utilizadas para o impeachment da presidenta Dilma Roussef, acontecimentos conjugados que deram início ao processo de desconstrução das instituições da República brasileira. As forças que representam o governo atual operam em favor dos interesses da necropolítica neoliberal em escala mundial; e, ao estimularem a expansão das milícias, a grilagem de terras dos povos originários e o garimpo ilegal, indicam a grave corrosão da soberania política interna. Etnocídio e ecocídio irreparáveis.

O desmonte das políticas de fomento à ciência e de preservação do patrimônio cultural comprometem o futuro das próximas gerações e as conquistas consolidadas nas últimas quatro décadas. O ataque neoliberal à educação pública, em que empresários se tornaram mentores de políticas educacionais, amplifica a ameaça contra a qual também se insurgiu o Manifesto de 1959. O negacionismo científico, associado ao anti-intelectualismo, tem sido a marca da ação e da omissão governamental, responsável pela morte (e também pelo deboche) de centenas de milhares de pessoas durante a pandemia do Covid-19. Todo esse quadro se agrava intensamente pela PEC 95 que congelou e definiu para o governo federal, por vinte anos, um teto de gastos com os direitos sociais, medida a exigir revogação imediata.

Como aqueles que tiveram sua liberdade cassada e sua expressão calada pela prisão nos anos de chumbo da ditadura, sentimo-nos na obrigação de reagir aos ataques à Universidade pública e ao Estado Democrático de Direito.

Conclamamos a comunidade da USP ao debate capaz de expressar nossa indignação diante das violações à democracia brasileira. É imperativo que a Universidade pública reafirme o seu compromisso com as políticas que enfrentam a desigualdade social e as discriminações, na defesa do ensino público, gratuito e de qualidade, assim como na manutenção dos programas de permanência e de ação afirmativa sócio-étnica e racial.

A democratização dos direitos implica, além disso, o fortalecimento da Educação Básica pública, que assegure a apropriação do conhecimento e o acesso de todos à Universidade. Esse acesso, no entanto, vem sendo inviabilizado pela nova Lei do Ensino Médio, a qual deve ser revogada. Na mesma direção, manifestamos nossa preocupação com a expansão dos programas de filantropização das creches, com a recente liberalização da educação domiciliar e a militarização das escolas públicas.

Nossa ação acadêmica deve se voltar ainda ao direito à cidade, à saúde, à moradia, à segurança pública, ao trabalho digno, à cultura, ao lazer – ao bem viver, em suma, fundamentos de uma sociedade plenamente democrática.

A Universidade abriga, como sabido, diversas tendências ideológicas e político-partidárias no seu interior. Mas o momento exige, de todas e todos, a grandeza de reconhecer, como dever moral e político inadiável, o agir em conjunto pela reconstrução da cidadania brasileira.

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A democracia no Brasil está em risco. Basta."

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