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Grupo de Maia monta bloco para buscar união na disputa da Câmara

Grupo de Maia monta bloco para buscar união na disputa da Câmara

Plano do presidente da Câmara de tentar a reeleição, no entanto, enfrenta resistência entre aliados e até mesmo nas bancadas de esquerda, que o apoiaram nas eleições anteriores. Se sair da disputa, Maia tem uma lista de aliados para lançar

Publicado em 5 de dezembro de 2020 às 14:33

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Presidente da câmara dos deputados, Rodrigo Maia (DEM), visita o governador Renato Casagrande (PSB) no Palácio Anchieta
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), esteve em Vitória nesta sexta-feira (05/12). (Vitor Jubini)

Aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), articulam a formalização de um bloco com MDB, DEM, PSDB, PV e Cidadania para a eleição do comando da Casa, em fevereiro. As siglas reúnem 106 deputados. Congressistas ainda tentam atrair o Republicanos e parte do PSL. Integrantes das siglas, porém, dizem que só aceitam a composição quando estiver definido quem será o candidato à presidência no grupo.

Se essas legendas aceitarem o convite, o total de deputados vai a 158. São necessários 257 dos 513 para a eleger, em primeiro turno, quem comandará a Câmara pelos próximos dois anos. O objetivo do bloco é justamente mostrar coesão entre os partidos do grupo de Maia.

Nesta semana, Maia e o presidente do DEM, ACM Neto, afirmaram a deputados aliados e da oposição, e também a ministros, que Maia não tentará a reeleição. Ainda assim, deputados desconfiam.

Mesmo nesse "núcleo duro", por exemplo, há divergências sobre apoio a uma possível reeleição de deputado.

O plano de Maia de tentar a recondução enfrenta resistência até mesmo nas bancadas de esquerda, que o apoiaram nas eleições anteriores.

A formação do bloco partidário na Câmara é um passo para tentar manter as alianças de Maia no poder. Se ele não conseguir se viabilizar, o grupo passa a representar a sustentação política do candidato da principal ala independente ao governo.

O grupo espera conseguir apoio do PSL se o partido concluir que a pré-candidatura de Luciano Bivar (PSL-PE), presidente da sigla, não é viável. Dos 41 deputados da legenda, espera-se o apoio de cerca de 20, mais ligados a Maia.

O líder do DEM, Efraim Filho (PB), disse que a intenção é oficializar a união das siglas o quanto antes.

"O diálogo é permanente [entre as legendas], a engenharia política está em andamento e até o início da semana que vem devemos ter o bloco formado", afirmou.

GRUPÃO QUER ATRAIR PARTIDOS DE ESQUERDA

Uma vez constituído o grupo, o objetivo será atrair a esquerda (PT, PSB, PDT, PC do B e PSOL), que tem reúne 132 deputados. Em encontro com líderes partidários dessa ala nesta semana, Maia ouviu que não teria o apoio das principais siglas - PT e PSB - para a reeleição.

 Foi um revés para a intenção de se manter no cargo mesmo se o supremo Tribunal Federal (STF) decidir, por maioria, liberar a candidatura.

Se sair da disputa, Maia tem uma lista de aliados para lançar. Os principais são Baleia Rossi (MDB-SP), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Bivar.

A indefinição gera discordâncias no seu entorno. Avançou na semana passada uma articulação para os partidos formarem um bloco na Câmara antes do recesso.

Por ora, o acordo entre esses nomes é que será candidato aquele que aglutinar a maioria dos apoios da esquerda e de outros partidos.

MDB, DEM, PSDB, PV e Cidadania formam o "núcleo duro", mas não estão livres de divergências, especialmente no momento de tentar se unir em torno de um único candidato do bloco à presidência.

Por isso, a ideia é que o grupo já busque um consenso até o fim do ano. Assim, a campanha em janeiro se concentraria em um candidato, e não em uma ala, para tentar derrotar os aliados do governo Jair Bolsonaro.

Se atraírem a esquerda na sua totalidade - o que é difícil ocorrer, já que há defecções também dentro das legendas da oposição -, os articuladores do bloco terão apoio de 290 parlamentares, mais do que suficiente para eleger o próximo presidente. Nesse cenário, mal haveria disputa na Câmara.

Já Arthur Lira (AL), líder do PP e principal adversário do grupo de Maia, teria hoje no seu entorno cerca de 150 deputados. Formam o grupo de apoio a Lira o PL, Solidariedade, Avante, PSD, Patriota e PSC.

Maia é presidente da Câmara desde julho de 2016. Apesar de, desde o ano passado, oficialmente negar a intenção de se reeleger, ele participou de articulações para que chegasse ao STF um questionamento sobre a possibilidade de recondução ao cargo.

O Supremo não encerrou o julgamento do caso, que também pode beneficiar o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). A análise segue no plenário virtual da corte até o dia 14.

Relator do processo, o ministro Gilmar Mendes atendeu à expectativa de aliados de Maia e Alcolumbre. Declarou inconstitucionais os trechos dos regimentos internos da Câmara e do Senado que vedam a reeleição.

Caso a interpretação seja confirmada pela maioria dos ministros do STF - havia cinco votos favoráveis até a noite desta sexta-feira (4) - fica dispensada a alteração do regramento, o que demandaria aprovação dos deputados por meio de votação de uma nova resolução.

A necessidade de reforma do regimento era defendida principalmente por congressistas contrários à tese da reeleição, argumentando a vedação nas regras internas da Câmara e do Senado.

O voto de Gilmar elimina essa interpretação e segue a linha do que esperavam os apoiadores de Maia e Alcolumbre, que temiam ainda ter de aprovar novas normas para viabilizar a recondução. Caso isso ocorresse, haveria insegurança jurídica, argumentam.

Gilmar afirmou que a decisão por reeleição pode ser deliberada "por questão de ordem ou mediante qualquer outro meio de fixação de entendimento próprio à atividade parlamentar [...] desde que observado, em qualquer caso, o limite de uma única reeleição ou recondução sucessiva ao mesmo cargo".

Ou seja, caso seja aprovado o voto de Gilmar, bastaria um parecer de Maia e de Alcolumbre para mudar a regra em vigor.

Hoje, qualquer deputado pode apresentar uma questão de ordem. O comandante de cada Casa tem a prerrogativa de acatar ou não.

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O maior empecilho para a estratégia de Maia se reeleger, portanto, é a costura política - não deve ser a questão jurídica.

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