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Especialistas analisam expectativa para economia com Bolsonaro

Especialistas analisam expectativa para economia com Bolsonaro

Mercado está cauteloso e espera detalhes para ter confiança

Publicado em 30 de outubro de 2018 às 12:16

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Eleitores assistem ao primeiro pronunciamento do presidente eleito, Jair Bolsonaro, em um hotel na Barra da Tijuca, no Rio, na noite deste domingo (28), após o resultado da eleição. (Marcelo Fonseca/Agência Estado)

 

Euforia e realização

O retrospecto positivo da última semana antecipou a reação do mercado à eleição de Bolsonaro. Nesta segunda-feira, a bolsa teve algumas quedas por causa da venda de ações que se valorizaram nesse período. Nesses próximos meses, o presidente eleito deve aproveitar a “lua de mel” com o mercado para encaminhar as reformas previdenciária e tributária, que são prioridades.

Pedro Lang

Assessor de investimentos da Valor Investimentos

Dificuldade à frente

O mercado sinalizou que Bolsonaro era a melhor solução para a estabilidade econômica. Agora, nosso maior medo é que as reformas sejam apenas parciais, por concessões feitas em troca de apoio político, porque não vai ser fácil.

Juliana Inhasz

Professora de Economia da Fecap

Sinalizar ao mercado

Em janeiro o mercado vai começar a prestar mais atenção nos novos ministros que serão definidos por Bolsonaro, como Casa Civil, Fazenda, Segurança e Ciência e Tecnologia. O mercado vai ficar esperando também pelo nome do Banco Central e do BNDES. Se forem ministros que o mercado não goste, teremos uma grande alta do dólar e o Ibovespa será negativo.

Luiz Roberto Monteiro

Operador da mesa institucional da Renascença DTVM

Capital político

O apoio que Bolsonaro terá no Congresso e Senado denota que ele vai ter alguma governabilidade porque vai ser imprescindível que dialogue e aproveite o capital político de início de mandato para realizar as reformas necessárias. 

William Castro Alves

Estrategista chefe da Avenue Security

Papel da oposição

O partido de Bolsonaro e seus aliados conseguiram eleger um bom número de cadeiras e, com isso, o governo vai ter apoio dentro do Senado e da Câmara. Por outro lado os partidos de oposição ao governo eleito tem o papel de fazer uma oposição responsável, para que as reformas a serem aprovadas sejam as melhores para o país e não atendam apenas aos interesses de um grupo.

Fernando Galdi

Professor da Fucape e sócio da Alphamar Investimentos

Próximos passos

O mercado já virou a página e quer olhar os próximos passos do novo presidente. Ele está dando o benefício da dúvida a Bolsonaro. Muito vai ser definido de acordo com as reformas e definições que a equipe de transição fizerem.

Zeina Latif

Economista-chefe da XP Investimentos

Parceria para reformar a Previdência neste ano

Ao invés de deixar para 2019 a aprovação da reforma da Previdência, o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), sinalizou que pretende que a pauta seja aprovada ainda neste ano, no governo Michel Temer. Considerada uma das medidas centrais a serem adotadas para o equilíbrio das contas públicas, a proposta de mudança no regime de aposentadorias está parada na Câmara.

Em entrevista a TV Record na noite desta segunda-feira (29), Bolsonaro afirmou que vai conversar com o presidente Temer para tentar aprovar “ao menos parte” da reforma ainda em 2018, antes de assumir o cargo.

Na próxima semana, o presidente eleito deve ir a Brasília conversar com Temer sobre a aprovação da matéria. Porém o presidente eleito não esclareceu se vai endossar integralmente o texto enviado que está na Câmara ou apenas alguns pontos do que é proposto. Em entrevistas recentes, Bolsonaro havia dito que seu projeto de reforma do sistema previdenciário era diferente do atual.

Na entrevista, o militar disse que uma aprovação ainda que parcial neste ano “evitaria problemas para o futuro governo”.

Nesta segunda-feira, o economista Paulo Guedes, indicado para ser ministro da Fazenda do novo governo, informou à imprensa que a reforma da Previdência será a prioridade do modelo econômico da gestão, que também inclui o controle dos gastos públicos, a redução da máquina estatal além de acelerar privatizações.

Relatório

Na pauta preparada pelo Ministério da Fazenda para o próximo governo, no chamado “livro branco”, estão itens fundamentais para que a economia nacional volte a crescer. Dentre eles estão a manutenção do teto de gastos – mecanismo que proíbe que as despesas públicas aumentem em ritmo superior ao da inflação –, a urgência da reforma da Previdência e uma negociação para a crise fiscal dos Estados são alguns dos pontos apontados.

O atual ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, deve entregar um plano de ação para a equipe de Paulo Guedes onde procura mostrar de forma prática que o teto de gastos tem todas as condições de funcionar no prazo de 10 anos e ainda como ele é uma ferramenta essencial para a consolidação fiscal.

A equipe da fazenda também irá entregar nos primeiros dias da transição um relatório completo sobre a situação das empresas estatais federais.

O programa de Guedes vê a privatização das estatais como ponto central do seu programa para reduzir a dívida pública. Já a principal recomendação da Fazenda é a reestruturação dos Correios e da Infraero para evitar que as duas estatais se tornem dependentes do Tesouro.

Abrangente

Também nesta segunda-feira, o futuro ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), defendeu em entrevista à Rádio CBN que a reforma da Previdência seja feita de uma única vez, para durar 30 anos, mas só a partir de 2019.

“Quanto à questão da reforma da Previdência, eu defendo, mas, aí é uma questão de uma leitura que tenho e que ainda está em processamento, eu defendo que se faça de uma única vez, lá quando ele já for o presidente e algo proposto para que dure 30 anos”, disse Lorenzoni, que chamou a proposta de reforma do atual governo de “remendo”, que “não duraria cinco anos”. (Com agências)

Mercado espera detalhes para ter confiança

Ao contrário do esperado, a euforia deu lugar a moderação no primeiro pregão da bolsa após a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) no último domingo. Nesta segunda-feira, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira B3, operou em queda e o dólar teve alta. Concretizada a eleição do seu candidato favorito, o mercado financeiro trabalhou com mais realismo e adotou um tom mais cauteloso diante da perspectiva dos próximos passos do novo governo federal.

O desempenho dos próximos dias do mercado estará muito ligado ao detalhamento da nova pauta e equipe econômica, avaliam especialistas, que afirmam ser fundamental que o presidente eleito informe aos investidores quem serão os ministros da Fazenda, Planejamento, Indústria e Casa Civil, e os presidentes do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Para Fernando Galdi, professor da Fucape e sócio da Alphamar Investimentos, os escolhidos devem ser profissionais com perfil técnico e conhecimento sobre a pasta que assumirão, para que os desafios, como as reformas da Previdência e a tributária, sejam enfrentados. Além disso, essa definição permitiria o mercado analisar o perfil dos nomes e projetar como deve se dar essas mudanças.

Segundo o operador da mesa institucional da Renascença DTVM, Luiz Roberto Monteiro, junto a isso, “será preciso que o presidente tenha um bom diálogo com a Câmara e o Senado para poder aprovar as reformas. Elas precisam ser feitas ainda no começo do mandato”.

Recorde

Na primeira hora de negociações, o Ibovespa pontuou positivamente, porém a tendência não permaneceu e a bolsa terminou fechado em baixa com 83.796 pontos e uma queda média de 2,24%. Enquanto isso, o dólar comercial encerrou o dia cotado a R$ 3,706, com alta de 1,51%, oscilando entre R$ 3,60 e R$ 3,717 ao longo do pregão.

Após abrir em alta, batendo 85.728 pontos, o Ibovespa chegou a subir 3,1% na maior crescente do dia, atingindo 88.377 pontos, e superando o recorde anterior, de 88.317 pontos, resultado obtido em fevereiro deste ano.

De acordo com Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, o mercado abriu celebrando uma valorização da bolsa e do real em relação ao dólar, porém o quadro externo devido a queda dos pregões de Wall Street foi um dos fatores que fizeram com que essa alta não se mantivesse.

Para o estrategista chefe da Avenue Security, William Castro Alves, outro fator que influenciou a queda do índice foi a realização de lucros e venda de ações por parte dos investidores. “Muitos investidores compraram ações na sexta-feira prevendo a vitória de Bolsonaro e nessa segunda-feira decidiram vendar esses papéis, o que aumentou o volume de vendas na bolsa”.

O volume movimentado superou R$ 24 bilhões, acima da média diária de outubro, que é de R$ 16,37 bi, sendo que o giro recorde considerando pregões sem exercício de opções é de R$ 28,97 bilhões, que foi registrado no último dia 8, após o primeiro turno da eleição. (Com colaboração da residente Larissa Avilez)

Na pauta do novo governo

PRIORIDADES

Contas públicas

Retomar o equilíbrio das contas públicas do país, que tem déficit previsto de R$ 139 bilhões. Reduzir gastos e realizar reformas para melhorar o quadro fiscal são primordiais.

REFORMAS

Previdenciária

Apontada como principal medida econômica do próximo governo, o INSS já tem rombo previsto de R$ 208,57 bilhões em 2019, o que equivale a 2,76% do PIB brasileiro.

Tributária

Desburocratização da máquina pública e simplificação na cobrança de tributos, com melhor repartição entre Estados e municípios.

NOMEAÇÕES

Ministérios

Conforme anunciado, Paulo Guedes assumirá o Ministério da Fazenda e Onyx Lorenzoni, a Casa Civil. Porém, é aguardada a definição dos nomes que estarão à frente dos ministérios do Planejamento e da Indústria e Comércio Exterior.

Banco Central e BNDES

Apesar da declaração de Paulo Guedes, favorável à permanência de Ilan Goldfajn, a nomeação do presidente ao Banco Central virá de Bolsonaro. Já a continuidade de Dyogo Oliveira, como presidente do BNDES, é incerta e substituição tampouco foi anunciada.

PRIVATIZAÇÕES

Aeroportos, portos, Petrobras e distribuidoras

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A venda de estatais aparece entre as propostas, mas ainda não há clareza sobre quais seriam as empresas.

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