RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O apartamento no Rio de Janeiro onde o belga Walter Henri Maximilien Biot, 52, morreu na última sexta (5) foi limpo antes da chegada da perícia. Esse foi um dos argumentos usados pela Justiça para manter a prisão do marido e cônsul alemão Uwe Herbert Hahn, 60, suspeito do homicídio.
"Ressalta-se que foi feita uma limpeza no apartamento antes da realização do exame pericial, fato que, por si só, demonstra que a liberdade do custodiado poderia acarretar sérios gravames à colheita das provas necessárias ao julgamento da demanda", escreveu o juiz Rafael de Almeida Rezende.
A limpeza do imóvel, contudo, ocorreu antes do caso passar a ser formalmente investigado como homicídio, indicam depoimentos à Polícia Civil.
Durante o atendimento emergencial a Biot, na noite de sexta (5), a Divisão de Homicídios foi acionada, mas considerou que não havia indícios claros do crime. Por esse motivo, não foi feito uma perícia no local de forma imediata.
A apuração começou apenas após as 10h, quando a 14ª DP (Leblon), na qual houve o registro da remoção do corpo, foi informada sobre as lesões incompatíveis com o relato do cônsul. Os agentes foram ao IML (Instituto Médico-Legal), onde encontraram Hahn, e seguiram para o apartamento.
Na perícia, foram detectadas manchas de sangue no banheiro, no sofá e num travesseiro do apartamento.
O alemão passou por audiência de custódia neste domingo (7) na Central de Audiência de Custódia de Benfica, na zona norte carioca, onde teve a prisão em flagrante convertida em preventiva, com prazo de 90 dias prorrogáveis.
Ele afirmou em depoimento no dia anterior que o companheiro teve um surto, caiu e bateu a cabeça na cobertura do casal em Ipanema, zona sul do Rio, mas a delegacia do Leblon, responsável pela apuração, refuta essa versão.
O exame de necropsia do IML constatou que o belga possuía hematomas, escoriações e outros tipos de lesão em mais de 15 pontos do corpo e que a causa da morte foi traumatismo craniano causado por "ação contundente".
Na decisão que converteu a prisão, o magistrado afirmou que "a aplicação da lei penal também está em risco, ainda mais se considerarmos que se trata de autoridade consular, não se descartando a facilidade de fuga do distrito da culpa".
A defesa do diplomata pediu o relaxamento da prisão, alegando imunidade consular, mas o magistrado entendeu que o ato em questão se refere a um crime doloso contra a vida, cometido no interior do apartamento do casal, e não tem qualquer relação com as funções consulares.
"Diferentemente dos agentes diplomáticos, os agentes consulares podem ser presos em flagrante de delito ou preventivamente, excetuadas as hipóteses de crimes praticados no exercício das funções, que estariam cobertos pela imunidade", argumentou.
Em depoimento na delegacia do Leblon na noite de sábado, a secretária do cônsul que não terá o nome divulgado para preservar sua identidade afirmou que limpou o chão da varanda da casa porque o cachorro do casal estava lambendo uma poça de sangue.
Ela afirmou que recebeu uma mensagem de texto por volta da 1h dizendo "Walter está morto. Teve um infarto". A secretária visualizou o recado às 3h e só entrou em contato com o cônsul pela manhã, o que ele confirmou em depoimento.
O cônsul estava chorando muito, dizendo que seu marido havia falecido em decorrência de um infarto, então ela se ofereceu para ir ao encontro dele para lhe fazer companhia. Ela o encontrou na rua andando com o cachorro. Eles se abraçaram, e ela o acompanhou até a cozinha.
A secretária disse que preparou café, pão, queijo e frutas, e o alemão contou que o companheiro começou a passar mal, correu em direção à varanda e caiu. Quando olhou para a varanda, ela viu que o cão estava lambendo uma mancha de sangue.
Por isso, ela pegou um balde com água e detergente e "realizou a limpeza superficial do local a fim de que o cão não tivesse contato com o sangue". Depois, retornou à cozinha e aconselhou Hahn a se dirigir ao IML para liberar o corpo e fazer os trâmites para o enterro.
A reportagem tentou entrar em contato com dois advogados do cônsul que constam no processo por telefone e por email. Um deles visualizou a mensagem da reportagem, mas não respondeu até a publicação deste texto. A Embaixada e o Consulado da Alemanha ainda não se manifestaram.
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