A morte da maior lenda do rock que ainda insistia em permanecer viva, Ozzy Osbourne, me tocou de uma maneira profunda ao ponto de não conseguir permanecer inerte, me causando um enorme sentimento — organizado como as guitarras de Tony Iommi, a regência maestral do baixo de Geezer Butler, a perfeita sintonia da bateria de Bill Ward e a caótica presença orgânica da voz de Ozzy Osbourne.
Sentimento esse que me obriga a resgatar toda a minha história com Ozzy e tudo que ele sempre me causou. Comecei a abrir toda a minha biblioteca de arquivos gerados ao longo da minha timeline, criada a partir do meu encontro com o Black Sabbath.
Como fotógrafo, diretor de fotografia e entusiasta da música, percebo que a influência do Sabbath na minha vida é de ponta a ponta. Comecei a publicar algumas homenagens em forma de posts, e tudo sempre me levava à percepção de que eles me acompanham como guias.
Nascido em Brasília, a vida sempre me levou ao caminho da política. Como cidadão, esse caminho sempre entrou à esquerda. Fazer esse ensaio de pensamento, traçando a política presente na sombra, dentro da neblina da música do Black Sabbath, é pensar na ciclicidade da sociedade e dos tempos.
A distopia sabbática, pensada em 1970, através das letras políticas, da crítica aos senhores da guerra, da sociedade que se converte nas massas criadas por generais, dos discursos dos bons moços que fazem Satã sorrir, faz com que esses mesmos senhores criem suas guerras de porcos.
Ozzy nos deixou aos 76 anos, e embalado por toda a estrutura sonora sobre-humana que seus companheiros de banda lhe estendiam, ele gritava a base do rock, que sempre foi a anarquia e a luta contra o sistema dos senhores da guerra.
Toda sua obra e vida foram guiadas pela controvérsia, protegidas pela casca grossa da não sobriedade. O estado do não estar presente lhe concedia o título de um ser iluminado pela luz dura que cria uma sombra expressionista lhe dando a permissão de afirmar que “o reino dele não pertence a este mundo”, assim como JC.
O encantamento de jovens pelo mundo afora, por décadas passadas e futuras que Ozzy criava, é divinamente obscuro. E a sua mensagem sempre foi única, direta e arrebatadora:
“Lutem contra os senhores e se protejam.”
Um dos últimos materiais documentais a respeito da vida e obra do Príncipe das Trevas tem foco na adaptação dele à vida anciã, revelando consciências inocentes sobre as pequenas coisas da vida — como aprender a dirigir. Em relato, ele revela que a primeira vontade da vida sóbria foi aprender a dirigir, se indagando por que nunca havia aprendido antes ele confessa a felicidade de poder ir e vir sem depender de ninguém.
Isso me remete a refletir a quais profetas devo entregar o meu poder de follow e a minha dedicação intelectual às obras e palavras?
Certa vez, em uma reunião com amigos, cerveja, churrasco e rock’n’roll, depois de algumas horas dedicadas àquele ritual, fui ao banheiro. Quando saí, me deparei com Glauber, mais afastado do meio onde a conversa e a cerveja na mão dominavam.
Glauber, com uma expressão longinquamente pensativa e com a mão no queixo, me gerou uma imensa curiosidade de querer saber qual pensamento se escondia atrás daquela expressão corporal e filosófica. Cheguei ao seu lado e perguntei:
— Papito, cê tá pensando em quê?
Com um sorriso de entendimento a respeito do próprio pensamento, ele pôs o braço direito sobre meus ombros e respondeu:
— Papito, sabe de quem é a culpa de tudo isso que você tá vendo ali?
Prontamente eu respondi:
— Não, papito, não sei.
Com o braço ainda sobre meu ombro, ele me olhou com um sorriso acolhedor e disse:
— É do Sabbath!
Ali percebi que sou um membro da Única Ordem Mundial: Black Sabbath.
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